O polvo ao jantar
O Bridge to Chinatown, no sudeste de Londres, não é o mais sofisticado restaurante chinês de tipo Halal (respeitador do Corão) na megalópole. Um advogado paquistanês, ligado ao conselho municipal, diz-me que prefere, por exemplo, o Tas. Mas, há 48 horas, a Polícia, com aparato antimotim, decidiu investir sobre o primeiro local, interrompendo o jantar. Simultaneamente, houve operações no Leste de Sussex, na “quinta escola” Jameah Islameah, e em Manchester. Tratava-se de investigar a existência de uma rede de “campos de treino”, que prepararia uma “guerra ideológica” e paramilitar, de grande fôlego.
Há poucos dias, a directora do serviço de segurança interna inglês, Eliza Manning-Buller, e o seu homólogo finlandês do SUPO, Seppo Nevala, dirigiram um sombrio encontro. Tratava-se de revelar, aos 27 responsáveis europeus do Grupo Antiterrorista, o que se sabe, e sobretudo o que se pode dizer, sobre a ameaça que, alegadamente, paira sobre o Reino Unido e sobre o continente.
Ficou a conhecer-se que, entre os detidos pelo caso do “terrorismo líquido”, pode estar o coordenador das acções da “marca” al-Qaeda para a Inglaterra. Ficou a saber-se que, entre militantes, comandos, activistas, simpatizantes, facilitadores e propagandistas, há milhares investigados, ou seguidos. “O meu nome é legião”, como diz o demónio do Evangelho.
O polvo (II)
Um quarto da população de Londres é migrante. Há centenas de milhares de cidadãos britânicos que, todos os anos, visitam o Paquistão, proclamado centro do vírus doutrinal do Emir Bin Laden.
Ou seja: a “guerra” é ingrata, confunde-se com a vida comum, e pode gerar erros graves, ou injustiças. O que fazer, por exemplo, se uma escuta telefónica detectar conversas sobre “princípios políticos” que justifiquem, indirectamente, actos violentos? Pode criminalizar-se uma orientação “filosófica”, ou religiosa, mesmo extrema?
Eis um dos pequenos problemas da investigação, numa Europa onde a al-Qaeda lança, através da chamada “Frente Islâmica Global para os Media”, um endereço electrónico em alemão, para os “voluntários” da Europa do Norte e Central.
Claro que, nesta fase, quando se diz “al-Qaeda”, não se fala de uma entidade corporativa, mas de um nome para a revolta, multinacional e complexo, real e letal. Não é tranquilizador.
Engenheiros
Enquanto o director do BND alemão, Ernst Uhrlau, negoceia uma troca de prisioneiros (e agradece a Beirute informações preciosas), com base na EPE (Tancos), no RE1 (Pontinha) e no RE3 (Espinho), Lisboa enviará engenheiros militares para o Líbano. Com estruturas verticais e horizontais destruídas, acessos minados, munições por explodir, há muitos riscos, e muito a fazer. Discutir se as forças portuguesas ficam sob direcção espanhola, numa missão internacional, é um caso menor. Importante é que não fiquem sob esse comando, em território pátrio.
Nuno Rogeiro
Retirado do Correio da Manhã, 03 de Setembro de 2006.
Há poucos dias, a directora do serviço de segurança interna inglês, Eliza Manning-Buller, e o seu homólogo finlandês do SUPO, Seppo Nevala, dirigiram um sombrio encontro. Tratava-se de revelar, aos 27 responsáveis europeus do Grupo Antiterrorista, o que se sabe, e sobretudo o que se pode dizer, sobre a ameaça que, alegadamente, paira sobre o Reino Unido e sobre o continente.
Ficou a conhecer-se que, entre os detidos pelo caso do “terrorismo líquido”, pode estar o coordenador das acções da “marca” al-Qaeda para a Inglaterra. Ficou a saber-se que, entre militantes, comandos, activistas, simpatizantes, facilitadores e propagandistas, há milhares investigados, ou seguidos. “O meu nome é legião”, como diz o demónio do Evangelho.
O polvo (II)
Um quarto da população de Londres é migrante. Há centenas de milhares de cidadãos britânicos que, todos os anos, visitam o Paquistão, proclamado centro do vírus doutrinal do Emir Bin Laden.
Ou seja: a “guerra” é ingrata, confunde-se com a vida comum, e pode gerar erros graves, ou injustiças. O que fazer, por exemplo, se uma escuta telefónica detectar conversas sobre “princípios políticos” que justifiquem, indirectamente, actos violentos? Pode criminalizar-se uma orientação “filosófica”, ou religiosa, mesmo extrema?
Eis um dos pequenos problemas da investigação, numa Europa onde a al-Qaeda lança, através da chamada “Frente Islâmica Global para os Media”, um endereço electrónico em alemão, para os “voluntários” da Europa do Norte e Central.
Claro que, nesta fase, quando se diz “al-Qaeda”, não se fala de uma entidade corporativa, mas de um nome para a revolta, multinacional e complexo, real e letal. Não é tranquilizador.
Engenheiros
Enquanto o director do BND alemão, Ernst Uhrlau, negoceia uma troca de prisioneiros (e agradece a Beirute informações preciosas), com base na EPE (Tancos), no RE1 (Pontinha) e no RE3 (Espinho), Lisboa enviará engenheiros militares para o Líbano. Com estruturas verticais e horizontais destruídas, acessos minados, munições por explodir, há muitos riscos, e muito a fazer. Discutir se as forças portuguesas ficam sob direcção espanhola, numa missão internacional, é um caso menor. Importante é que não fiquem sob esse comando, em território pátrio.
Nuno Rogeiro
Retirado do Correio da Manhã, 03 de Setembro de 2006.
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