http://img233.imageshack.us/img233/4972/novadireita15tl.jpg

quinta-feira, setembro 28, 2006

V colóquio anual da Lusofonia


Quando em 2001 preparamos o início destes COLÓQUIOS ANUAIS da LUSOFONIA - sob a égide do nosso patrono Embaixador Professor Doutor José Augusto Seabra - queríamos provar que era possível descentralizar a realização destes eventos e que era possível realizá-los sem sermos subsídio-dependentes. O ponto de partida foi a descentralização da discussão e das problemáticas da língua portuguesa no mundo.

De 2002 em diante os Colóquios têm-se realizado em Bragança, graças ao apreciável apoio da CMB na sua aposta de combate à insularidade em termos culturais. Portugal, como toda a gente sabe, é um país macrocéfalo; cada ano que passa existe mais Lisboa e o resto confina-se apenas a paisagem. É muito raro os locais do interior, os mais remotos como Bragança, poderem ter acesso a debates e muito menos duma forma continuada a acontecimentos de considerável importância sobre o futuro da língua. Com a saída de serviços vitais à fixação de pessoas no interior, com a diminuição da população escolar, a falta de atracções a nível de emprego, com todos os poderes decisórios radicados em Lisboa, cidades como Bragança estão por vezes mais perto de Madrid do que de Lisboa. Tentando lutar contra essa tendência, conseguiu-se que estes colóquios se tornassem graças à nossa persistência na única iniciativa, concreta e regular em Portugal nos últimos cinco anos sobre esta temática.

"O povo de Bragança tem uma curiosidade. Neste distrito fala-se um português ainda mais vernáculo do que o português corrente. O certo é que em Bragança, fruto do seu isolamento ao longo de 400 anos – a via IP4 chegou a Bragança em 1991 – permitiu que se mantivesse um falar mais vernacular do que aquele que se fala nas grandes urbes e que serve normalmente depois para padrão da língua portuguesa falada”

“A intenção destes colóquios é diferente da maioria das realizações congéneres. Continuam a caracterizar-se pela sua completa independência de quaisquer forças políticas ou institucionais e asseguram essa sua “independência” através do simbólico pagamento das inscrições de oradores e participantes presenciais, contando com o importante apoio, ao nível logístico, da autarquia que fez a sua aposta cultural na divulgação e realização deste importante evento anual e a ela se associa na componente lúdico-cultural.

Essa sua independência e o seu carácter não-subsidiado permite viabilizar a participação de um leque alargado de oradores, desassombrados, sem peias, sem temores nem medo de represálias dos patrocinadores institucionais sejam eles governos, universidades ou meros agentes económicos. Os encontros e conferências de formato tradicional são reuniões em que o final há uma acta cheia de boas intenções com as conclusões. Os nossos colóquios que em 2002 inovaram e introduziram o hábito de entregar os CD com as Actas no início das sessões, visam aproveitar a experiência profissional e pessoal de cada um dentro da sua especialidade e dos temas que estão a ser debatidos, para que os restantes oradores possam depois partir para o terreno, para os seus locais de trabalho e utilizarem esses instrumentos que já deram resultados noutras comunidades. Ou seja verifica-se a criação de uma rede informal que permitiu um livre intercâmbio de experiências e vivências, que se prolongou ao longo destes cinco, muito para lá do colóquio em que intervieram.

Estes Colóquios podem ser ainda marginais em relação às grandes directrizes aprovadas nos gabinetes de Lisboa, mas na prática têm servido para inúmeras pessoas aplicarem as experiências doutros colegas à realidade do seu quotidiano de trabalho com resultados surpreendentes e bem acelerados como se acabou de ver na edição de 2005, com a campanha para salvar o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e com o lançamento a nível oficial do Observatório da Língua Portuguesa.

Pelo quarto ano consecutivo teremos o apoio inequívoco da Câmara Municipal de Bragança que vai editar em livro as Actas dos últimos Colóquios.


Este ano, igualmente se mantiveram a Mostra de Artesanato e a Mostra de Livros, e pela primeira vez teremos no seio dos Colóquios dois saraus Musicais. A realidade da Lusofonia - tal qual a entendemos - não se restringe à mera discussão linguística o que só vem demonstrar a vitalidade e a – cada vez mais lata – abrangência destes Colóquios.

Por outro lado, a componente lúdica e cultural destes Colóquios tem permitido nos últimos anos, algo que não sucede em eventos deste tipo: a confraternização cordial, aberta, franca e informal entre oradores e presenciais. Nos anos transactos tivemos sempre almoços entre participantes e passeios culturais ao Parque Natural de Montesinho, Rio de Onor e Cidadela. Este ano, para além disso, teremos uma visita a Miranda do Douro onde seremos recebidos com todas as honras das tradições locais. Deste convívio têm saído reforçados os elos entre oradores e presenciais, que se têm perpetuado a nível pessoal e profissional. As pessoas conseguem dispor de mais tempo para trocarem impressões, falarem de projectos, partilharem ideias e metodologias, fazerem conhecer as suas vivências e pontos de vista, alargando esta rede informal que são os Colóquios Anuais da Lusofonia que neste momento já movimentam cerca de duas mil pessoas através da sua rede.

Não hesito em afirmar que o futuro da língua portuguesa no mundo está - de momento - salvaguardado através do crescimento demográfico do Brasil, Angola, Timor e Moçambique. Por outro lado, regista-se o seu enriquecimento através das línguas autóctones e dos crioulos, que têm o português como língua de partida. Grande parte das línguas tende a desaparecer por ausência de influências novas, mas o português revela nalguns locais uma vitalidade fora do normal. A miscigenação com os crioulos e com os idiomas locais vai simultaneamente permitir o desenvolvimento desses crioulos e a preservação do português. Por isso, não devemos ter medo do futuro do português porque ele vai continuar a ser falado no mundo e a crescer nos restantes países. Pode não ser porém o Português que falamos hoje aqui mas uma variante bem mais pujante como é a Brasileira.

Que ninguém se demita da responsabilidade na defesa do idioma independentemente da pátria. Falemos Português independentemente da nossa cidadania.

Hoje como ontem, a língua de todos nós é vítima de tratos de polé. Longe vai o tempo em que dava gosto ouvir os locutores de rádio e televisão porque eram óptimos exemplos de como falar bem Português. Hoje é a banalização, o laxismo, e a ignorância. Infelizmente, a população está pouco consciente da importância e do valor do seu património linguístico. Os longos anos da ditadura fizeram perder muita da riqueza dos regionalismos, o centralismo lisboeta uniformizou ainda mais os falares. Os sotaques são criticados e menorizados quando não servem de elemento de discriminação profissional. Apesar da generalização do ensino e do seu acesso ilimitado a todas as classes, baixou o nível de conhecimentos e ás pessoas falta-lhes o gosto de bem falar e escrever. Quase todos se demitiram da responsabilidade que lhes cabe na defesa da língua que fala. Temos apenas o que merecemos, esta é a sociedade que responde com o mediatismo, o espectacular e o medíocre. A nossa conformada indiferença não passa duma conivência. Detestamos o rigor e a exigência para facilitarmos a pressa e a santa ignorância, lemos pouco e mal pois habituamo-nos a alucinar diariamente frente ao pequeno ecrã da televisão do nosso contentamento. Somos culturalmente derrotistas, pessimistas, desorganizados, conservadores, masoquistas e rimo-nos de nós mesmos ao falarmos do país pequeno e atrasado. No entanto temos o maior isto, o maior aquilo, basta consultar o livro de recordes do Guiness.

Nestes colóquios temos vindo a alertar para a necessidade de sermos competitivos e exigentes. Sempre afirmei que não podemos nem devemos esperar pelo Estado ou pelo Governo e tomarmos a iniciativa em nossas mãos. Assim como criamos estes Colóquios, também cada um de nós pode criar a sua própria revolução, em casa com os filhos, com os alunos, com os colegas e despertar para a necessidade de manter viva a língua de todos nós. Sob o perigo de soçobrarmos e passarmos a ser ainda mais irrelevantes neste curto percurso terreno.

Urge pois apoiar uma verdadeira formação dos professores da área, zelar pela dignificação da língua portuguesa nos organismos nacionais e nos internacionais dotá-los com um corpo de tradutores e intérpretes profissionalmente eficazes. Jamais podemos esquecer que a língua portuguesa mudou através dos tempos, e vai continuar a mudar. A língua não é um fóssil. Também hoje, a mudança está a acontecer. Nas comunidades PALOP as novas gerações falam os dialectos locais e aprendem inglês relegando o Português para níveis residuais, porque poucos são os que têm orgulho de falar Português.

Portugal e Brasil continuam a valorizar o acessório e a subestimar o essencial. O tão apregoado Acordo Ortográfico, ao contrário do que muitos defendem tem uma importância diminuta. Tal como em França se tem provada a língua não se faz por decreto mas sim por vontade popular, é a mais democrática das armas, e é o povo quem a domina. Devemos deixar que a língua siga o seu rumo natural e seja cada vez mais viva em vez de a amordaçarmos a Acordos Ortográficos. A língua não se decreta! Todos nos entendemos mesmo com grafias diferentes. A língua deve evoluir ao sabor de cada país com palavras distintas, grafias e vivências diferentes.

Os portugueses e brasileiros não têm uma verdadeira política da Língua, e não conjugam objectivos através duma CPLP adormecida enquanto franceses e ingleses estão bem activos. O actual impacto mundial da língua portuguesa existe sobretudo por acção dos outros. A R. P. da China prepara os seus melhores quadros para dominarem a língua portuguesa e desta forma conquistarem os mercados lusófonos. Irá depender sobretudo do esforço brasileiro em liderar que a Lusofonia poderá avançar, levando a reboque os países africanos ainda cheios de complexos do colonizador Portugal. A língua portuguesa é alimentada de forma diferente de acordo com as realidades sociais, económicas, culturais dos países onde está instituída, geograficamente distantes uns dos outros. A Língua Portuguesa pode ser o veículo de aproximação entre os países lusófonos e as comunidades lusofalantes em todos os continentes. No entanto vivemos de costas voltadas uns para os outros. Por motivos políticos, por medo de invasões passadas e futuras, crescemos ignorando o drama dos nossos irmãos lusofalantes da Galiza.

Há 5 anos que sonho com este colóquio dedicado a este tema tão especial. Desde o primeiro ano que temos tido uma representação da Galiza em todos os Colóquios. Até hoje, porém jamais os galegos se mostraram com forças para aceitarem o desafio. Estou convencido de que serão capazes de deixarem de olhar para o próprio umbigo e pensarem no que é melhor para todos e participarem construtivamente neste evento.

Apraz-me registar que pela primeira vez se conseguiram reunir debaixo dum mesmo tecto, as correntes intelectuais divergentes da Galiza, que também têm passado os anos de costas voltadas uns para os outros, sem conseguirem estabelecer uma união e convergência na luta comum que é a preservação da língua de todos nós.

Para tal muito devemos ao incansável trabalho do Dr. Ângelo Cristóvão membro dos Comités destes Colóquios e presença habitual em colóquios anteriores. Resta-me apelar aos presentes para que saibam escutar e debater de forma tolerante as opiniões divergentes que aqui se irão expor, na certeza de que só o compromisso, a concertação e a união de esforços poderá levar ao engrandecimento da grande pátria universal que é a língua portuguesa, independentemente da nacionalidade dos seus falantes, independentemente das suas convicções políticas ou religiosas.

É neste momento histórico de viragem que se espera surjam os grandes inspiradores, capazes de aglutinar sob uma plataforma comum vários pontos de vista divergentes. Sabemos que a divisão só favorece aqueles que não acreditam na vitalidade e no relevo da língua que falamos. Ainda no ano passado aqui se discutiu como a língua do povo colonizador português serviu para aglutinar a resistência timorense contra os invasores indonésios e actualmente serve para enriquecer o próprio idioma local Tétum. Tal como os timorenses que lutaram durante mais de 24 anos pela sua independência, podem os galegos aspirar a que a sua língua seja universalmente falada no seio da Comunidade Autónoma da Galiza como membros de pleno direito daquela Lusofonia global e globalizante em que acreditamos.

A terminar quero referir que este ano dentre meia centena seleccionamos 27 oradores, o que é um número recorde de participações desde sempre. Estão representadas as seguintes Universidades: Corunha, Vigo, Santiago de Compostela, Valhadolid, Salamanca, Coimbra, Minho, Évora, Madeira, Açores, Ljubljana (Eslovénia), Université Lumière Lyon2 (França), Università Degli Studi Suor Orsola Benincasa, Nápoles (Itália), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Brasil, Academia Feminina de Letras do Rio Grande do Norte e as seguintes Associações: MDL (Movimento de Defesa da Língua (Galiza), Associação de Amizade Galiza-Portugal, AGAL, Plataforma para a emissom das rádios e televisons portuguesas na Galiza, Confraria Queirosiana e Arte Tripharia (Galiza).

Espero que no final deste encontro possam os presentes regressar aos seus locais de residência e de trabalho com soluções e propostas viáveis para aceitar esta Lusofonia com todas as suas diversidades culturais sem exclusão de todas as que com a nossa podem coabitar.

Chrys Chrystello

Via o A Bem da Nação.