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terça-feira, outubro 03, 2006

O 'Código'


Confesso que só consegui ler aí umas 50 páginas de O Código Da Vinci, de Dan Brown, antes de o pôr de lado e passar a leituras mais interessantes. Nunca fui grande adepto desta modalidade de ficção conspirativo-esotérica e pseudo-histórica em banho de thriller, que exige o talento, a erudição e o sentido de humor de um Umberto Eco para conseguir a minha suspensão da descrença. Assim não pensam os milhões de ávidos compradores do livro em todo o mundo, muitos dos quais já se deram ao trabalho de ir visitar os locais referidos no enredo da obra (caso do Louvre, em Paris, e da Igreja de Santa Maria Delle Grazie, em Milão) em excursões organizadas para o efeito, e ainda esportularam uns cobres extras para comprar os livros que, por sua vez, se propõem, muito seriamente, «descodificar» a obra de Dan Brown. O fenómeno do best-seller não me faz espécie, tudo pelo contrário. O que me mete impressão é que haja pessoas - e não são poucas - que encarem uma construção ficcional baseada em dados pretensamente históricos, fantasias esotéricas e interpretações descabeladas de obras de arte (a Última Ceia, de Leonardo Da Vinci), como uma obra rigorosa de não ficção, que supostamente traz à luz «verdades» ocultas, secretas e «incómodas» para instituições poderosas como a Igreja Católica (um alvo muito original, sem dúvida...). Como também me impressiona que pessoas responsáveis se dêem ao trabalho de fazer palestras para rebater, enfática e laboriosamente, as «teses» de Dan Brown, como foi o caso, ontem, do padre Carreira das Neves, em Lisboa. É dar ao livro uma importância que ele não tem nem nunca terá. Acreditar em O Código Da Vinci é um pouco como acreditar em Os Salteadores da Arca Perdida, mas a verdade é que a credulidade humana tem uma profundidade abissal. E quem a sabe explorar industrialmente é quem ri por último, enquanto deposita mais umas royalties no banco.

Eurico de Barros

Retirado do Diário de Notícias, 20 de Novembro de 2004.