Cultura, poder e humildade
Em Portugal temos um ministério da cultura, se me não atraiçoa a memória iniciado com Francisco Lucas Pires, num dos governos de boa lembrança a que pertenceu.
Não sabemos é muito bem como funciona ou para que serve o ministério da cultura: deverá preservar a cultura, promover a cultura, fomentar e desenvolver a cultura?
Provavelmente, deverá, pelo menos, fazer um pouco de cada uma dessas coisas.
Promover a necessidade da cultura é, decerto, uma missão essencial num país, ou no seio de um povo, que passa por ser dos mais incultos da Europa; preservar a cultura, num país, ou no seio de um povo, onde há tantos e tão significativos vestígios, indícios, sinais de cultura, é decerto, missão imprescindível; incentivar, desenvolver e fomentar a cultura que somos e a que podemos vir a ser, num país ou num povo que desdenha, em geral, esses propósitos e valores, é uma tarefa aliciante e inadiável.
Este conjunto de objectivos e preocupações devem constituir o programa de qualquer ministro da cultura.
É desejável, é claro, que o ministro da cultura seja culto, no duplo sentido de configurar o plano de acção que responde àquelas metas como de realização necessária e urgente, mas também no sentido de que ame esses valores, se entusiasme ao promovê-los, tenha ele próprio uma sólida formação cultural, caldeada pelo desejo de aprender e de conhecer, de par com a humildade de perceber a relatividade dos conceitos, no mundo do seu criador, perante os outros criadores.
Cultura é, pois, muito mais do que um conjunto de saberes, o desejo de os aprofundar, dia a dia, num exame contínuo, de perseguir o propósito de proceder ao aperfeiçoamento de valores, de progressão para a perfeição, mito inatingível, mas sempre de procurar diàfanamente.
Talvez, pois, o ministro da cultura não precise, afinal, de ser um sábio, mas se não for sábio, deve relacionar-se com sábios, apoiar-se neles, colher os seus ensinamentos e fazê-los seus, tomando-os em conta nas decisões que houver de assumir.
Essencial no ministro da cultura é que tenha poder, que saiba o que é a cultura, que exerça o poder para cumprir o que a cultura exige e que tudo isso faça com humildade e respeito pelos valores dos outros.
Nada disso faz sentido em Portugal, neste Portugal que vivemos.
Um conjunto de reputados cientistas achou interessante abrir o túmulo de D. Afonso Henriques, que se encontra no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, onde terá sido sepultado em 1185.
Pediu autorização a quem supunha poder concedê-la - a Direcção Regional de Coimbra do IPPAR, que se sentiu autorizada a permitir - e preparou a intervenção.
Não é caso de discutir-se se é ou não importante, relevante ou útil saber se D. Afonso Henriques era alto ou baixo, comia peixe ou carne, partiu ou não uma perna em Badajoz.
Certo é que o exame foi autorizado.
Para isso veio equipamento do estrangeiro, que cá não temos, vieram professores especializados no trabalho a fazer, da Universidade de Granada, que já haviam participado em investigação semelhante sobre Cristovão Colombo.
Tudo estava pronto quando a Ministra da Cultura determinou o cancelamento da abertura do túmulo, apenas porque não lhe havia sido dito por quem o devia fazer que se preparava daquele modo o estudo dos ossos do nosso primeiro rei.
O prejuízo que o cancelamento, causou, o vexame e a vergonha que os técnicos portugueses sofreram, o atraso num estudo considerado importante, o facto de o equipamento não estar tão cedo disponível, visto que seguirá brevemente para o México, a dificuldade de voltar a reunir os estudiosos, tudo foi, para a Ministra da Cultura, nada ou razões de somenos, quando não terá sido mesmo a verdadeira motivação da ordem.
Não sabia, não lhe disseram, deviam ter-lhe dito, a solução não era lembrar a quem omitiu a comunicação que devia tê-la feito, e consentir, de pronto, no que fosse preciso consentir.
Está, deste modo, salva a “honra do convento”, afirmada a autoridade da ministra, bem expresso o poder que tem.
Haverá que pagar ao dono das máquinas e aos cientistas cerca de 9.000 euros, ao empreiteiro que montou os andaimes e abriu parte do túmulo, que encontrar novos mecenas financiadores...
Que importa isso?
Salvou-se o orgulho, o egocentrismo, o poder da ministra.
É, pois, seguro: a dirigir o ministério da cultura temos uma ministra com poder e autoridade. De cultura é que não temos nada. A senhora não é nem culta, nem humilde, tão pouco se rodeou de gente culta e humilde, de um ombro onde repousasse e fosse capaz de lhe refrear a afirmação de vaidade pessoal de que deu mostras.
Teixeira e Melo
Retirado do Democracia Liberal.
Não sabemos é muito bem como funciona ou para que serve o ministério da cultura: deverá preservar a cultura, promover a cultura, fomentar e desenvolver a cultura?
Provavelmente, deverá, pelo menos, fazer um pouco de cada uma dessas coisas.
Promover a necessidade da cultura é, decerto, uma missão essencial num país, ou no seio de um povo, que passa por ser dos mais incultos da Europa; preservar a cultura, num país, ou no seio de um povo, onde há tantos e tão significativos vestígios, indícios, sinais de cultura, é decerto, missão imprescindível; incentivar, desenvolver e fomentar a cultura que somos e a que podemos vir a ser, num país ou num povo que desdenha, em geral, esses propósitos e valores, é uma tarefa aliciante e inadiável.
Este conjunto de objectivos e preocupações devem constituir o programa de qualquer ministro da cultura.
É desejável, é claro, que o ministro da cultura seja culto, no duplo sentido de configurar o plano de acção que responde àquelas metas como de realização necessária e urgente, mas também no sentido de que ame esses valores, se entusiasme ao promovê-los, tenha ele próprio uma sólida formação cultural, caldeada pelo desejo de aprender e de conhecer, de par com a humildade de perceber a relatividade dos conceitos, no mundo do seu criador, perante os outros criadores.
Cultura é, pois, muito mais do que um conjunto de saberes, o desejo de os aprofundar, dia a dia, num exame contínuo, de perseguir o propósito de proceder ao aperfeiçoamento de valores, de progressão para a perfeição, mito inatingível, mas sempre de procurar diàfanamente.
Talvez, pois, o ministro da cultura não precise, afinal, de ser um sábio, mas se não for sábio, deve relacionar-se com sábios, apoiar-se neles, colher os seus ensinamentos e fazê-los seus, tomando-os em conta nas decisões que houver de assumir.
Essencial no ministro da cultura é que tenha poder, que saiba o que é a cultura, que exerça o poder para cumprir o que a cultura exige e que tudo isso faça com humildade e respeito pelos valores dos outros.
Nada disso faz sentido em Portugal, neste Portugal que vivemos.
Um conjunto de reputados cientistas achou interessante abrir o túmulo de D. Afonso Henriques, que se encontra no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, onde terá sido sepultado em 1185.
Pediu autorização a quem supunha poder concedê-la - a Direcção Regional de Coimbra do IPPAR, que se sentiu autorizada a permitir - e preparou a intervenção.
Não é caso de discutir-se se é ou não importante, relevante ou útil saber se D. Afonso Henriques era alto ou baixo, comia peixe ou carne, partiu ou não uma perna em Badajoz.
Certo é que o exame foi autorizado.
Para isso veio equipamento do estrangeiro, que cá não temos, vieram professores especializados no trabalho a fazer, da Universidade de Granada, que já haviam participado em investigação semelhante sobre Cristovão Colombo.
Tudo estava pronto quando a Ministra da Cultura determinou o cancelamento da abertura do túmulo, apenas porque não lhe havia sido dito por quem o devia fazer que se preparava daquele modo o estudo dos ossos do nosso primeiro rei.
O prejuízo que o cancelamento, causou, o vexame e a vergonha que os técnicos portugueses sofreram, o atraso num estudo considerado importante, o facto de o equipamento não estar tão cedo disponível, visto que seguirá brevemente para o México, a dificuldade de voltar a reunir os estudiosos, tudo foi, para a Ministra da Cultura, nada ou razões de somenos, quando não terá sido mesmo a verdadeira motivação da ordem.
Não sabia, não lhe disseram, deviam ter-lhe dito, a solução não era lembrar a quem omitiu a comunicação que devia tê-la feito, e consentir, de pronto, no que fosse preciso consentir.
Está, deste modo, salva a “honra do convento”, afirmada a autoridade da ministra, bem expresso o poder que tem.
Haverá que pagar ao dono das máquinas e aos cientistas cerca de 9.000 euros, ao empreiteiro que montou os andaimes e abriu parte do túmulo, que encontrar novos mecenas financiadores...
Que importa isso?
Salvou-se o orgulho, o egocentrismo, o poder da ministra.
É, pois, seguro: a dirigir o ministério da cultura temos uma ministra com poder e autoridade. De cultura é que não temos nada. A senhora não é nem culta, nem humilde, tão pouco se rodeou de gente culta e humilde, de um ombro onde repousasse e fosse capaz de lhe refrear a afirmação de vaidade pessoal de que deu mostras.
Teixeira e Melo
Retirado do Democracia Liberal.
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