Sem olhos em Gaza
A ofensiva israelita em Gaza (que prossegue à hora em que escrevo, e apesar da anunciada mediação egípcia) estava preparada muito antes da captura do jovem soldado judeu, de origem francesa.
As centenas de carros de combate Merkava, blindados de transporte, peças de artilharia, milhares de homens de várias unidades, helicópteros de assalto e estruturas de comando foram estabelecidos nas bases de Nahal Oz, Kissafim e Khan Younes e estavam a preparar-se há semanas. Nos mentideros, diz-se mesmo que o ministro da Defesa, o sindicalista hebreu-marroquino Amir Peretz, estaria a tentar moderar, minimizar, adiar ou suprimir qualquer ofensiva de larga escala contra o frágil quase-Estado governado pelo Hamas.
Mas a continuação das provocações – do anúncio de uma nova geração de mísseis (um foi encontrado em Ashkelon), com mais alcance e controlo precisos, aos ataques a Sderot, da entrada em cena da Jihad Islâmica, à promessa de uma estratégia continuada de raptos – fez Peretz ceder aos “instintos de sobrevivência”. Num tom paciente, foi o próprio chefe trabalhista que anunciou “ter-se acabado o baile de máscaras”, explicando que “gravatas e fatos” não disfarçam os “terroristas” que os usam.
Outra questão é saber se, libertado de um governo incómodo na Palestina, Israel pode esperar algo mais do que um curto período de ilusória segurança. No fundo, já vimos isto antes.
Nuno Rogeiro
Retirado do Correio da Manhã, 02 de Julho de 2006
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