Os cavalos de Tróia
Isto é, podem os Estados da civilizada União, de repente, soçobrar na guerra civil?
Desconfiai dos gregos e dos seus presentes.” Com o alargamento desenfreado da União Europeia, há lá (cá) dentro cavalos de Tróia?
Isto é, podem os estados da civilizada União, de repente, soçobrar na guerra civil?
Há tempos atrás, um velho membro, a França, ardia todas as noites, com danças de resistência e guerras tribais. Mas agora é a Nova Hungria que se excita, em torno das espantosas declarações do senhor Gyurcsanny.
O chefe socialista, que governa com os liberais e defronta uma oposição de ‘centro-direita’ (aliada, na rua, a militantes nacionalistas radicais), viu gravada (por quem?) uma franca conversa num conciliábulo partidário, onde reconhece que o poder passou dois anos a mentir ao povo, sem fazer nada de bom.
O discurso soa mais a (auto)crítica do que a confissão. Um jornal de Budapeste fala mesmo em “catarse e tragédia”. Mas o certo é que, manipulações do descontentamento à parte, esta parecia uma crise à espera, inevitável.
A verdade é que o velho reino magiar é hoje uma República empobrecida, socialmente instável, em que as massas perguntam se valeu a pena.
Não querendo voltar ao comunismo ‘tecnocrático’ de 1988, também ninguém quer suicidar-se em nome dos bonitos olhos de Bruxelas.
Golpe no Paraíso
O décimo oitavo golpe da Tailândia (a ‘Terra dos Homens Livres’) foi suave, com os soldados aconselhados pelo comando a usar flores nas espingardas e a sorrir aos transeuntes. O rei Bhumibol, da dinastia Chakri, santificou o pronunciamento, liderado por um general muçulmano. O seu poder, anunciado enquanto provisório e comissarial (como era o de Caio Júlio César), levará a uma nova constituição e eleições. Diz-se que o destituído governante militar (que sobrevivera a dois atentados), contestado por fraude eleitoral e nepotismo, foi incapaz de resolver – ponderadamente – a insurreição islâmica nas províncias do Sul, e compreender a vital posição estratégica do ex-trono do Sião, no cruzamento das rotas da droga e das guerras de religião. Isso paga-se caro.
Em 410 a.C., Aristófanes escrevia ‘Lisístrata’ (que chegou a inspirar Chico Buarque). As mulheres de Esparta, Boécia e Corinto unem-se para acabar com a guerra do Peloponeso. Obrigam os maridos a depor as armas, negando-lhes relações íntimas. O mesmo fizeram, com sucesso, as esposas dos gangsters de Pereira e Dosquebrados, na Colômbia, onde 488 pessoas morreram em 2005, nas vinganças entre bandos rivais.
As relações entre Paquistão e EUA terão chegado ao seu pior momento desde 2001. Quem ganha são os Taliban do Waziristão.
Em Beirute, o empolgado xeque Nasrallah declara a vitória, pede a paz, e anuncia que ainda tem 20 mil mísseis para lançar.
Nuno Rogeiro
Retirado do Correio da Manhã, 24 de Setembro de 2006.
Desconfiai dos gregos e dos seus presentes.” Com o alargamento desenfreado da União Europeia, há lá (cá) dentro cavalos de Tróia?
Isto é, podem os estados da civilizada União, de repente, soçobrar na guerra civil?
Há tempos atrás, um velho membro, a França, ardia todas as noites, com danças de resistência e guerras tribais. Mas agora é a Nova Hungria que se excita, em torno das espantosas declarações do senhor Gyurcsanny.
O chefe socialista, que governa com os liberais e defronta uma oposição de ‘centro-direita’ (aliada, na rua, a militantes nacionalistas radicais), viu gravada (por quem?) uma franca conversa num conciliábulo partidário, onde reconhece que o poder passou dois anos a mentir ao povo, sem fazer nada de bom.
O discurso soa mais a (auto)crítica do que a confissão. Um jornal de Budapeste fala mesmo em “catarse e tragédia”. Mas o certo é que, manipulações do descontentamento à parte, esta parecia uma crise à espera, inevitável.
A verdade é que o velho reino magiar é hoje uma República empobrecida, socialmente instável, em que as massas perguntam se valeu a pena.
Não querendo voltar ao comunismo ‘tecnocrático’ de 1988, também ninguém quer suicidar-se em nome dos bonitos olhos de Bruxelas.
Golpe no Paraíso
O décimo oitavo golpe da Tailândia (a ‘Terra dos Homens Livres’) foi suave, com os soldados aconselhados pelo comando a usar flores nas espingardas e a sorrir aos transeuntes. O rei Bhumibol, da dinastia Chakri, santificou o pronunciamento, liderado por um general muçulmano. O seu poder, anunciado enquanto provisório e comissarial (como era o de Caio Júlio César), levará a uma nova constituição e eleições. Diz-se que o destituído governante militar (que sobrevivera a dois atentados), contestado por fraude eleitoral e nepotismo, foi incapaz de resolver – ponderadamente – a insurreição islâmica nas províncias do Sul, e compreender a vital posição estratégica do ex-trono do Sião, no cruzamento das rotas da droga e das guerras de religião. Isso paga-se caro.
Em 410 a.C., Aristófanes escrevia ‘Lisístrata’ (que chegou a inspirar Chico Buarque). As mulheres de Esparta, Boécia e Corinto unem-se para acabar com a guerra do Peloponeso. Obrigam os maridos a depor as armas, negando-lhes relações íntimas. O mesmo fizeram, com sucesso, as esposas dos gangsters de Pereira e Dosquebrados, na Colômbia, onde 488 pessoas morreram em 2005, nas vinganças entre bandos rivais.
As relações entre Paquistão e EUA terão chegado ao seu pior momento desde 2001. Quem ganha são os Taliban do Waziristão.
Em Beirute, o empolgado xeque Nasrallah declara a vitória, pede a paz, e anuncia que ainda tem 20 mil mísseis para lançar.
Nuno Rogeiro
Retirado do Correio da Manhã, 24 de Setembro de 2006.
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