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sexta-feira, julho 07, 2006

Nacionalismo e batota


Penso que o nacionalismo, em si mesmo, na forma pura, é bom como todas as coisas naturais. Porque é, ou deveria ser, natural as pessoas amarem, defenderem e exaltarem a sua pátria. E porque assim é, o nacionalismo puro não se trombeteia, vive-se sem alardes nem desfiles, no respeito pela nossa pátria e pelas pátrias dos outros, no respeito pelas nossas tradições e as que nos são alheias, no respeito pela nossa raça e por todas as raças. Numa prática quotidiana eivada de boa fé e rectas intenções.
Porque é que o nacionalismo, enquanto programa ou linha de acção, levanta tantas suspeições, e não apenas em Portugal? Tenho pensado muito nisso e chego sempre à mesma conclusão: porque vários países, e nós com eles, ficámos escaldados dessa profissão de fé nacionalista que afinal era uma desavergonhada batota. Uma capa de toureio que escondia o nazismo, o fascismo, o peronismo, o comunismo. Todos os líderes que usaram essa prática berravam o seu nacionalismo e no entanto, levaram as suas pátrias ao abismo e os seus povos a sofrimentos que a memória não pode esquecer. Quando aparece um movimento que, também ele, berra o seu nacionalismo como programa de acção, apenas um escasso número a ele adere, ficando-se a maioria por uma distância hostil e pronta a saltar se for caso disso. Porque se sente que aquele nacionalismo não é são, puro, natural, antes representa uma mmentira escondida, como que um vício escondido ou um aleijão da alma. Quarenta e oito anos desse “nacionalismo” sofridos em silêncio, com a polícia política à perna e os videirinhos do regime bem instalados, e depois mais uns anos das consequências, nacionais e internacionais, do “nacionalismo” que nos quiseram impor os lacaios da União Soviética, fizeram de nós, portugueses, um povo escaldado.
Ao que parece o mesmo se passa em países onde se viveu o mesmo e por isso se compreenderá que os grupelhos falsamente nacionalistas tendam a juntar-se, para uma ilusão de força internacionali, com todo o seu asqueroso folclore de cabeças rapadas, tatuagens, armas ilegais, paleio de ameaças e violências que, em geral, esconde fraquezas que Freud catalogou. O fenómeno é seguido com a maior atenção por um grande número de países.
A Turquia é um deles. E porquê? Segundo uma extensa reportagem passada recentemente na estação televisiva estadual do Canadá, e nas palavras de autoridades turcas, porque, se as suas comunidades emigrantes sofrerem perseguições por parte de nazis e fascistas na Europa, terão de decidir a invasão militar para defender os seus compatriotas. Nem mais nem menos.
Manter os grupos nazis, fascistas e comunistas, como inócua minoria, é um dever de todos os países cristãos e civilizados. Mas, penso, não é à bastonada que isso se consegue. É através da educação, da informação, da justa distribuição de bens, do respeito por cada ser humano. Só há uma maneira de erradicar os vírus sociais que essas ideologias veiculam: acabar com a fome, a ignorância e a injustiça social. Porque os vírus só medram em corpos doentes. Em boa verdade, só uma pessoa doente de carácter pode afirmar bacocamente, perante um país inteiro, que defende uma Europa apenas para brancos ou que dedica a sua vida a exaltar o sofrimento dos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Os doentes não se tratam a pontapé. Internam-se. E tratam-se.

Fernanda Leitão

Retirado do Lusitana Antiga Liberdade.