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quinta-feira, agosto 03, 2006

Aproximação a Monteiro mal recebida no CDS


O almoço entre o presidente do CDS, José Ribeiro e Castro, e o líder da Nova Democracia, Manuel Monteiro, não caiu bem entre os democratas-cristãos. De membros da direcção ao grupo de críticos, é clara a discordância com a estratégia de aproximação a um partido que qualificam como "inexistente". Um reparo a que partidários de Paulo Portas acrescentam o facto de o encontro ter redundado em fortes críticas de Monteiro (também ex-presidente do CDS) a Portas.

Mas a discordância é, desta vez, mais alargada. Maria José Nogueira Pinto, presidente do Conselho Nacional do partido e uma apoiante de primeira linha de Ribeiro e Castro, também não aprova a estratégia de aproximação ao PND [Partido da Nova Democracia].

"Desde que não me levem a mim para esses almoços, é-me indiferente", afirmou ontem ao DN a também vereadora da Câmara Municipal de Lisboa. Que diz não ver benefícios na procura de uma plataforma de entendimento com o ex-líder do CDS (que deixou o partido em 2002, em rota de colisão com Paulo Portas). "Manuel Monteiro não representa absolutamente nada, nem à direita, nem ao centro, nem à esquerda. E convém lembrar que se portou bastante mal com o CDS", refere Maria José Nogueira Pinto, num claro reparo ao encontro entre Ribeiro e Castro e Monteiro. Também Anacoreta Correia, vice-presidente do CDS, disse ao DN ter "muitas reservas à oportunidade e utilidade do encontro".

Entre a bancada de deputados o descontentamento é patente. "Lamento que o presidente do partido sujeite o CDS e o seu antigo presidente a isto", afirmou ao DN João Rebelo, qualificando o episódio como "mais um acto infeliz da gestão" de Ribeiro e Castro. "Manuel Monteiro não resiste a lançar farpas ao dr. Paulo Portas. Mas o mais lamentável é que isso seja feito no contexto de um almoço com o líder do CDS", diz ainda Rebelo, antes de acrescentar que "já não é a primeira vez que acontece".

A aproximação à Nova Democracia, no sentido de promover o diálogo no espaço de centro-direita com vista a uma eventual "plataforma de pensamento", também merece a discordância deste deputado - um nome próximo de Portas, que chegou a ser convidado por Ribeiro e Castro para integrar a direcção no último congresso, convite que recusou. "Não se percebe o encontro estratégico com o líder do PND, que vale 0,3%. É um partido residual, inexistente. Não se entende", refere João Rebelo, para quem o almoço de segunda-feira não foi mais que "uma boa oportunidade para Manuel Monteiro valorizar o PND".

Afirmando concordar com a orientação de abrir o partido ao diálogo, nomeadamente junto da sociedade civil, o deputado critica, no entanto, a abordagem do actual líder: "Procurar ter força noutros sectores é uma coisa, outra é começar com uma trapalhada com um micropartido." João Rebelo deixa mesmo um desafio à actual direcção: se há uma orientação no sentido de uma maior proximidade a outros partidos, "porque é que o assunto não é discutido em Conselho Nacional"?

Com Paulo Portas remetido ao silêncio, o líder parlamentar, Nuno Melo, também não se alongou nos comentários. Mas deixou um sinal claro de desaprovação: "Já tinha percebido que a silly season existia. Não tinha era percebido que era tão silly." Já António Pires de Lima, que há alguns meses protagonizou um diferendo com Ribeiro e Castro, também por causa de Manuel Monteiro, respondeu com um lacónico "não comento irrelevâncias". Quando, no passado mês de Março, Pires de Lima pediu explicações ao presidente centrista sobre um alegado convite para o regresso de Monteiro ao CDS, Ribeiro e Castro respondeu então "não comento 'não factos'".

Citando este episódio, outro deputado, Pedro Mota Soares, defende que "a direcção do partido tem de explicar o que é que aconteceu". Para o parlamentar, "não faz sentido nenhum" procurar convergências com um partido que "não representa nada eleitoralmente e que foi feito contra o CDS". "Isto faz mal ao partido", acrescenta, referindo que o CDS "não tem de fazer a avalização de pequenos projectos pessoais feitos" contra os democratas-cristãos. Esta aproximação, critica Mota Soares, "desrespeita os 32 anos de história" do CDS.

Portas não responde

Directamente visado pelas palavras de Manuel Monteiro - "Este senhor [Portas] é um empecilho para entendimentos ou plataformas eleitorais à direita. (...) Com o dr. Portas não se fala, porque só pensa em benefício próprio" - o ex-presidente e actual deputado optou pelo habitual silêncio.

Susete Francisco

Retirado do Diário de Notícias, 2 de AGosto de 2006