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sexta-feira, setembro 22, 2006

Regresso ao realismo


Desde há uns anos que a resposta do mundo ocidental ao terrorismo se baseia na seguinte premissa: o terrorismo foi tão longe com o 11 de Setembro, mostrou uma tão temível sofisticação nos seus recursos e ideologia, que o Ocidente, no fundo os Estados Unidos, não podia insistir com a velha passividade. A segurança da América já não dependia da protecção das suas fronteiras mas exigia que um certo voluntarismo fosse posto em prática. Os tempos tinham mudado, mesmo que isso representasse uma mudança da política não agressiva da era Clinton e das ambições de isolacionismo com que Bush iniciou o seu mandato. A legítima defesa, como na invasão do Afeganistão, não chegava. As imperfeições das Nações Unidas eram um sinal de lirismo. Se fosse preciso os Estados Unidos interviriam sozinhos contra o terrorismo de massas, empenhando-se na transformação do Médio Oriente.

A guerra do Iraque foi o mais óbvio ensaio dessa política e, entretanto, vale a pena relembrar o que se tem aprendido. Primeiro, mesmo que a longo prazo o Iraque se torne uma democracia estável e sem divisões, a ideia que daí nascerá um efeito de contágio para o Médio Oriente é, para já, impossível de antecipar. No mundo árabe a democracia não tem gerado moderação mas radicalismo: os xiitas controlam o Iraque e o Hamas manda na Palestina. Depois, nenhuma política para o Médio Oriente pode resultar se pretender a aculturação e ocidentalização das populações locais. Não se pode fugir a que sociedades com tradições incompatíveis resistam à intromissão. Lutar contra o terrorismo no interior de um Estado também parece impossível. Nenhum Estado ocidental tem condições para aguentar guerras longas e dispendiosas. Há um risco sério de inconsequência e incompletude.

É preciso cautela na ideia de mudar de uma vez o Médio Oriente. Isto implica o regresso a uma diplomacia activa e realista, intransigente com o fundamentalismo, responsabilizador do islão moderado mas apenas apostado em obter ganhos relativos. A contenção deve agora prevalecer sobre a utopia.

Pedro Lomba

Retirado do Diário de Notícias, 16 de Setembro de 2006.