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terça-feira, agosto 15, 2006

Cuba: sem transição nem solução?


A transmissão pessoal e familiar do poder em Cuba, de Fidel Castro ao irmão Raúl, mostra a índole do regime e dos regimes comunistas: teoricamente, governos "populares", ou de uma vanguarda partidária esclarecida e portadora da verdade histórica, acabam, como qualquer satrapia reaccionária, nas dinastias familiares.

Porque aí - como nas sociedades primitivas - a família é a base da confiança.

A longevidade da ditadura cubana, para além do facto de ser uma "ilha", por isso mais fácil de controlar e fechar, tem a ver com a personalidade "carismática" do líder e fundador da revolução e com o facto de ele explorar, sempre, o factor nacional e nacionalista, o antiamericanismo, muito mais que o "internacionalismo" comunista.

Não se esqueça de que Cuba foi o último território do Império espanhol das Américas e que os norte-americanos tiveram um papel chave (e não muito digno) na independência do país, em que instalaram uma hegemonia político-económica que durou até à queda de Fulgêncio Baptista.

Fidel foi romantizado, nos anos 60, depois da sua vitória, na Europa, resultado da queda, por dentro, da oligarquia de Baptista ligada (segundo The Godfather, parte II) aos patrões das mafias americanas!

Para uma esquerda abalada pela revelação dos crimes do comunismo soviético e chinês, pelo fracasso dos partidos francês e italiano na Europa Ocidental, pelos insucessos no Médio Oriente e em África, os "barbudos" cubanos pareciam feitos de encomenda para tomar o lugar dos "bons" da fita: eram "libertadores", numa área - a latino-americana - marcada por grandes abismos sociais, pela hostilidade aos "gringos" do Norte, por ideais de justiça e de melhoria de vida, disseminados pela tradição cristã e pelos intelectuais de classe média na sociedade.

O problema é que, uma vez conquistado o poder e reprimida qualquer resistência, após as veleidades de expansão revolucionária por toda a América Latina e África e o seu fracasso, que levou à derrota da "esquerda revolucionária" e ao poder ditaduras militares de resposta ao "frentismo" de esquerda - Chile e Brasil -, ou ao terrorismo radical - Argentina e Uruguai -, a sociedade cubana pouco ou nada mudou para a maioria dos seus habitantes.

Continuaram a viver miseravelmente, num Estado policial, em parte alimentados pelas remessas dos parentes refugiados na Florida, em parte pelas generosas ajudas económicas, ontem da URSS, hoje do megalómano Hugo Chávez, caudilho da Venezuela, tão cego no seu ódio a Bush e a Washington que se solidariza com o Irão e a Coreia do Norte.

Como irá tudo terminar?

Os regimes autoritários de longa duração e muito personalizados não costumam sobreviver aos seus fundadores.

Os regimes autoritários peninsulares - de Salazar e Franco - não sobreviveram muito tempo à doença e morte dos seus líderes, acabando um por ruptura e outro por transição dirigida.

E ambos tinham no plano económico-social, sobretudo nos anos finais, uma dinâmica de desenvolvimento que falta em Cuba, e tinham criado e desenvolvido classes médias que foram depois o suporte da implantação democrática.

Além disso, nem Salazar nem Franco deixaram o poder a um irmão ou parente, chefe máximo do aparelho militar e securitário...

Resumindo: se o "líder máximo" não voltar ao poder, sem o seu merecido ou imerecido "capital" de carisma, é muito duvidoso que o regime cubano, sob a pressão da sua classe média - que está em Miami - possa resistir, sem agravar a repressão, num país que tornou o turismo, além dos subsídios petrolíferos de Chávez, na sua fonte de recursos.

O mais natural, pois, é assistirmos a uma solução à Europa Oriental - pressão popular, mudanças e choques na classe dirigente e queda por implosão; ou de uma versão mais brutal, "à romena", com ajuste de contas violento dentro do partido e uma saída militar.

Aliás, foi para, antecipadamente, prevenir esta solução militar que os Castros (Fidel e Raúl) organizaram a liquidação do general Ochoa, o herói cubano da guerra de Angola, cuja popularidade entre os soldados e o povo era enorme, nos anos 90.

Uma execução sumária, depois de um processo sumário, a partir de uma "montagem" que deixou espantados e escandalizados os próprios círculos de "incondicionais" euro- -americanos do regime de Cuba.

Que, entretanto, com o seu ódio a Bush a aos EUA, já esqueceram outra vez tudo...

Maria José Nogueira Pinto

Retirado do Diário de Notícias, 11 de Agosto de 2006.