Pyongyang: a guerra fria revisitada
A Coreia do Norte avançou, na passada quarta-feira, com as suas provocações ao lançar seis mísseis (dependendo das fontes), um dos quais, o preocupante e inovador Taepodong 2, capaz de alcançar a costa oeste norte-americana. Desde então já lançou um sétimo e prevê-se que continue com esta ofensiva ainda que desaconselhada pelos seus aliados tradicionais.
Os mísseis foram lançados na noite de 4 de Julho, dia nacional dos Estados Unidos da América e caíram no Mar do Japão. Não tardou até se ouvirem algumas vozes de protesto por parte dos diferentes actores internacionais, em particular as dos EUA e do Japão, que condenaram formalmente os testes e, ainda, exigiram que a comunidade internacional sancionasse o regime norte-coreano.
As reacções desejadas
Pyongyang pretende redesenhar o equilíbrio regional com a demonstração do seu poder balístico, forçando o Japão e, consequentemente, os EUA a adoptarem medidas que favoreçam o seu regime, seja através de futuras concessões, seja através do levantamento de algumas sanções já impostas. Porém, a reacção internacional foi de desapreço pelos ensaios e não se ouvem súplicas de solidariedade em parte nenhuma, pelo contrário, até os aliados históricos se envergonham do sucedido.
Por seu turno, a administração de George W. Bush, Presidente dos EUA, não encara estas ameaças com grande credibilidade, uma vez que a Coreia do Norte depende grandemente do apoio externo, daí que qualquer situação que desfavoreça a hegemonia chinesa ou a fiabilidade sul coreana (os principais parceiros financeiros e, até, políticos de Kim) teria consequências devastadoras para os interesses do regime. De resto, segundo Bush, "é importante que todo o mundo esteja de olhos na Coreia do Norte, dessa forma chegaremos a uma solução de conjunto". Quer isto dizer que o tiro poderá saír pela culatra norte-coreana.
As reacções sentidas
O executivo japonês já adoptou algumas sanções: proibiu a entrada no seu território de qualquer navio ou aeronave norte-coreanos, cancelando o único cruzeiro que liga estes dois territórios por um periodo de seis meses; pretende,igualmente (ainda que com pouca viabilidade), congelar as transferências financeiras, ou remessas unilaterais, por parte da comunidade norte-coreana residente no território nipónico para os seus familiares subjogados ao regime de Kim Jong Il.
Por sua vez, a Rússia, aliada tradicional de Pyongyang, condenou estes ensaios, considerando-os verdadeiros atentados ao equilíbrio regional mas, sobretudo, qualifica-os como uma violação das regras geralmente aceites no que toca a este tipo de prática, nomeadamente, devido à falta do pré-aviso exigido aquando de ensaios balísticos de médio ou longo alcance. Todavia, o executivo russo, liderado por Vladimir Putin, apela à calma e à prudência por parte dos seus parceiros internacionais.
China envia negociador
Mais cautelosa está a China, a aliada do regime, ao mostrar-se, sem dúvida, preocupada com a situação, porém, o que verdadeiramente a tormenta não é a crise dos mísseis mas sim uma hipotética queda do enigmático líder norte coreano, Kim Jong Il.Neste sentido, a China agendou, para segunda-feira, o envio de um negociador de alto nível, o vice-ministro dos negócios estrangeiros, Wu Dawei. Este partirá após ter conversado com o vice-secretário de Estado norte-americano, Christopher Hill, em visita a Pequim.
A ONU dividida
Os EUA, por seu turno, procuram estruturar um conjunto de medidas sancionatórias com o objectivo de persuadir Pyongyang a não prosseguir com as suas intenções de armamento, sobretudo, o nuclear. No seio da ONU (Organização das Nações Unidas), o Japão fez circular um projecto de resolução, condenando os ensaios, exigindo que a Coreia do norte retornasse às negociações e ameaçando recorrer a sanções caso não avançasse com um desmantelamento nuclear irreversível. Em resposta, a Rússia e a China, com poder de veto no Conselho de Segurança., preferem que seja apenas tomada uma posição não vinculativa sob forma de um comunicado presidencial (tal como aconteceu em 1998 com o lançamento do taepodong 1) salvaguardando, assim, a sobrevivência do regime.
Pyongyang ameaça guerra total
Já se espera mais um lançamento balístico nos próximos dias, provavelmente, devido ao falhanço do primeiro que teve de ser abortado 42 segundos após o lançamento. O espetáculo de Kim, conhecido pelas suas capacidades enquanto coreógrafo de dança, ao lançar um aparato de mísseis para encobrir o previsível falhanço do Taepodong 2, está a preparar terreno para um descontentamento generalizado e o recuo dos apoios fidelizados.
A China pede a Pyongyang que não repita os ensaios convidando-a a retomar as conversações para o desmantelamento nuclear, a Rússia pede calma, os EUA exigem uma retaliação e o Japão está ocupado com tudo o que poderá enfraquecer a Coreia do Norte. Por sua vez, o regime de Kim acredita estar no seu direito de soberania e acredita que o lançamento dos mísseis faz parte de exercícios militares regulares. Segundo o número dois da missão norte coreana junto da ONU, Han Song Ryol, os exercícios servem "para combater a escalada de actos provocatórios dos inimigos da Coreia do Norte." Afirmou ainda que "seremos forçados a tomar contra-medidas totais se forem aplicadas sanções", ou seja, a Coreia do Norte ameaça recorrer à guerra nuclear contra os seus inimigos. Com todos estes acontecimentos, parece que a Coreia do Norte está a conduzir uma política de "más escolhas sucessivas".
Retirado do Semanário, 07 de Julho de 2006
2 Comments:
Não consegui efectuar mais actualizações, o blogger encontra-se, aparentemente, em "upgrades".
Li a indicação do seu link no Blog da Santa.Parabéns pelo blog, um abraço.
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