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quinta-feira, julho 27, 2006

A Síria emerge à frente e ao centro


“A guerra nada ganha, nada cura, nada acaba... na guerra não existem vencedores, só perdedores.” Assim afirmou Neville Chamberlain na véspera da guerra que, desenfreadamente, tentou evitar mas para a qual contribuíram as suas próprias indiscrições.

Chamberlain estava enganado. A guerra acabou com a Alemanha nazi, apesar do custo ter sido alto: o Holocausto, o colapso do Império Britânico, a estalinização de 11 nações da Europa de Leste, 50 milhões de mortos e meio século de Guerra Fria.

Enquanto escrevo isto, Condi Rice chega ao Médio Oriente e a guerra, já com duas semanas, Israel – Hezbollah, uma troca de artilharia pelos padrões da Segunda Guerra Mundial, parece abrandar. Os recontros finais encontram-se ainda longe, nos primeiros recontros não abundam vencedores, excepto talvez Hassan Nasrallah, o líder do Hezbollah.

Nasrallah desencadeou a guerra no norte com o ataque via túnel ao posto fronteiriço, do qual resultou oito israelitas mortos e dois capturados. Escapou a um ataque com bomba anti-bunker no sul de Beirute; ainda retém os dois israelitas capturados; e o Hezbollah aguentou duas semanas de bombardeamentos por parte de Israel, e ripostou com mais de mil Katyushas contra Israel e com rockets de longo alcance contra a cidade de Haifa.

Enquanto que o iraniano Ahmadinejad fala sobre riscar Israel do mapa, Nasrallah pratica-o. Entre os árabes e muçulmanos para os quais Israel é o maior objecto dos seus ódios Nasrallah certamente que se destaca actualmente tanto quanto pode um líder desde o Egipto de Nasser. Tivessem-no liquidado os israelitas naquele recente ataque aéreo e Israel podia estar hoje a proclamar uma vitória na guerra.

Mas é difícil distinguir o que Israel ganhou. A chocante devastação do Líbano – vias rápidas, centrais eléctricas, estradas, pontes, apartamentos, refinarias, estações de gasolina e autocarros destruídos – podem ter chocado os inimigos de Israel, mas também chocou os seus amigos. É um mistério a razão que pela qual Israel, provocada pelo Hezbollah, atacou o democrático Líbano cujo governo não havia cometido qualquer acto de agressão mas que, juntamente com o Egipto, a Arábia Saudita e a Jordânia, o havia criticado.

E a guerra expôs um desejo profundo, da parte de Israel, de reenviar o seu exército para o Líbano para combater o Hezbollah, cujas transgressão fronteiriça era um desafio para os israelitas, um “venham lá apanhar-nos.”

O grande derrotado é o Líbano. Dezenas de milhar de ocidentais que haviam auxiliado na recuperação do Líbano desde as ruínas dos anos 70 e 80 fugiram. A Revolução dos Cedros, que produziu uma democracia, foi destruída. Com a taxa de mortalidade a subir, milhares de feridos e entre 600.000 a 750.000 desalojados ou refugiados, o Líbano regrediu 20 anos.

Existe o risco de que, a menos que seja enviado auxílio para o Líbano e seja permitido o regresso dos refugiados aos seus lares, em vez de ser um exemplo do projecto de Bush de implantação da democracia no mundo árabe o Líbano se torne noutro Estado falhado.

Teerão, também, sofreu uma perda de prestígio. Como patronos do Hezbollah são vistos actualmente no Médio Oriente como cúmplices de um acto de estupidez que trouxe a ruína a uma nação árabe. E a falha do Irão não auxiliar os seus aliados xiitas em batalha com Israel expõe-nos como pouco mais que heróicos guerreiros islâmicos da propaganda de Teerão.

De facto, a impotência aparente por parte do Irão em auxiliar o Hezbollah , enquanto Bush dá uma mãozinha livre a Israel no Líbano, pode forçar o Irão a mostrar que ainda tem poder suficiente para danificar os interesses dos E.U.A.. Denunciações públicas de Israel pelo regime, apoiado pelos E.U.A. e dominado pelos xiitas, de Bagdade pode ser um indicador de onde o Irão tenciona exercer o seu ajuste de contas.

Bashar al-Assad da Síria aparenta ser o único beneficiário da guerra, se é que há algum. Apesar acusada pela acção do Hezbollah, a Síria emerge como a única parte que pode assegurar que os rockets de Teerão não cheguem ao Hezbollah através do vale Bekaa.

Se na altura das tréguas o arsenal de katyushas do Hezbollah se encontrar vazio, e o exército do Líbano e as forças da OTAN sejam mobilizadas para a zona fronteiriça de Israel, será essencial a cooperação da Síria no bloqueio ao reabastecimento do Hezbollah por parte do Irão. Tendo percebido isto, Condi Rice manifestou estar disposta a falar com Damasco. A questão que então se colocará será: qual o preço da cooperação da Síria?

A resposta é aparente. A Síria há muito que procura a reabertura das negociações com Israel acerca da devolução dos Montes Golã, e uma resolução da questão palestina através dum retorno à terra pela paz.

Ariel Sharon e Ehud Olmert, contudo, abandonaram essa via em favor de uma retirada unilateral de Gaza e partes indesejadas da Faixa Ocidental, e a anexação de tudo o resto, incluindo toda Jerusalém e os seus distantes subúrbios. Se Israel recusar discutir os Golã com a Síria, ou negociar com a Autoridade Palestiniana liderada pelo Hamas, é difícil vislumbrar um final para esta crise no Médio Oriente.

Com a devastação que causou no Líbano, o bloqueio da Faixa Ocidental e de Gaza, e a sua determinação em destruir a Autoridade Palestiniana, Israel está a criar Estados falhados em três fronteiras. Como isto serve os melhores interesses de Israel e da América é-me difícil vê-lo.
Patrick Buchanan
24 de Julho de 2006. Retirado do The American Cause.