O mundo perigoso
Em 1995, Ramzi Yusef (que precocemente dinamitara as Torres Gémeas, dois anos antes) foi julgado e condenado por uma ideia macabra: tratava-se de usar explosivo líquido (nitroglicerina), virtualmente indetectável nos aeroportos comuns, para destruir, ‘em vagas’, uma série de voos transatlânticos, causando o caos nas principais cidades do mundo.
O plano descoberto no Reino Unido, que começou a ser investigado em Maio (e que não aprece assim ligado à situação no Líbano) e que é atribuído a uma ‘al-Qaeda renascida’, tinha muitas semelhanças com isto. Sob a cobertura de uma empresa de segurança, um grupo sofisticado experimentou nitrato metílico, formamida, e uma mistura de nitrometano, sensibilizador e composto energético.
Os alvos eram 20 voos de companhias aéreas inglesas, americanas e europeias, possivelmente na madrugada do dia 11 (outra vez o número da morte). Esta aceleração de preparativos levou a uma operação de segurança gigantesca. Claro que vários segmentos do público estão fartos de falsos avisos e alegações não fundamentadas. Mas quando o lobo chegar, quem sofre é quem não acreditou em Pedro.
Guerra a fingir
A Reuters viu-se acusada de retocar fotografias de Beirute a arder, para sugerir uma destruição redobrada. Suspendeu o repórter Hadnan Hajj e retirou a imagem.
Há dúvidas sobre o enquadramento de filmes e o PM libanês teve de corrigir, ao vivo, uma informação errada sobre baixas em Houla. Nas zonas de choque, os jornalistas são impedidos de filmarem à vontade. Não há imagens, por exemplo, de alvos militares atacados ou destruídos.
Também não sabemos, do lado libanês, quantos milicianos do Hezbollah morreram nas operações. Numa guerra em que um dos lados não usa uniforme, todos os seus mortos aparecem como ‘civis’. Ninguém tem dúvidas sobre os graus de destruição, no Líbano e na Galileia. Mas face aos ecos perturbantes de manipulação, uma das coisas que faz falta no conflito é uma agência independente que avalie os estragos, identifique as vítimas e investigue as alegações de ‘crimes de guerra’. Estes são, não a violação de qualquer vaga ‘lei moral’, mas a directa infracção de normas de direito positivo, convencionadas e codificadas, aprovadas em Genebra e na Haia, a partir de 1864, e sobretudo de 1899. Nessa altura, as nações ‘civilizadas’ puseram-se de acordo: se não era realista ‘proibir’ a guerra, pretendia-se, ao menos, mitigar os seus efeitos sobre os inocentes.
Decisão Impossível
Shimon Peres absteve-se, mas o gabinete de segurança israelita decidiu expandir as operações terrestres no Líbano, pelo menos até ao planalto de Nabatea, a Arnun, a noroeste do rio Litani. Horas antes substituíra generais e comandantes, face às críticas de ineficácia táctica, que temos vindo a citar.
Claro que mais ‘botas no solo’ significa muito mais baixas, mas para Jerusalém não há, neste momento, saídas airosas.
Nuno Rogeiro
Retirado do Correio da Manhã, 13 de Agosto de 2006.
O plano descoberto no Reino Unido, que começou a ser investigado em Maio (e que não aprece assim ligado à situação no Líbano) e que é atribuído a uma ‘al-Qaeda renascida’, tinha muitas semelhanças com isto. Sob a cobertura de uma empresa de segurança, um grupo sofisticado experimentou nitrato metílico, formamida, e uma mistura de nitrometano, sensibilizador e composto energético.
Os alvos eram 20 voos de companhias aéreas inglesas, americanas e europeias, possivelmente na madrugada do dia 11 (outra vez o número da morte). Esta aceleração de preparativos levou a uma operação de segurança gigantesca. Claro que vários segmentos do público estão fartos de falsos avisos e alegações não fundamentadas. Mas quando o lobo chegar, quem sofre é quem não acreditou em Pedro.
Guerra a fingir
A Reuters viu-se acusada de retocar fotografias de Beirute a arder, para sugerir uma destruição redobrada. Suspendeu o repórter Hadnan Hajj e retirou a imagem.
Há dúvidas sobre o enquadramento de filmes e o PM libanês teve de corrigir, ao vivo, uma informação errada sobre baixas em Houla. Nas zonas de choque, os jornalistas são impedidos de filmarem à vontade. Não há imagens, por exemplo, de alvos militares atacados ou destruídos.
Também não sabemos, do lado libanês, quantos milicianos do Hezbollah morreram nas operações. Numa guerra em que um dos lados não usa uniforme, todos os seus mortos aparecem como ‘civis’. Ninguém tem dúvidas sobre os graus de destruição, no Líbano e na Galileia. Mas face aos ecos perturbantes de manipulação, uma das coisas que faz falta no conflito é uma agência independente que avalie os estragos, identifique as vítimas e investigue as alegações de ‘crimes de guerra’. Estes são, não a violação de qualquer vaga ‘lei moral’, mas a directa infracção de normas de direito positivo, convencionadas e codificadas, aprovadas em Genebra e na Haia, a partir de 1864, e sobretudo de 1899. Nessa altura, as nações ‘civilizadas’ puseram-se de acordo: se não era realista ‘proibir’ a guerra, pretendia-se, ao menos, mitigar os seus efeitos sobre os inocentes.
Decisão Impossível
Shimon Peres absteve-se, mas o gabinete de segurança israelita decidiu expandir as operações terrestres no Líbano, pelo menos até ao planalto de Nabatea, a Arnun, a noroeste do rio Litani. Horas antes substituíra generais e comandantes, face às críticas de ineficácia táctica, que temos vindo a citar.
Claro que mais ‘botas no solo’ significa muito mais baixas, mas para Jerusalém não há, neste momento, saídas airosas.
Nuno Rogeiro
Retirado do Correio da Manhã, 13 de Agosto de 2006.
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