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sábado, julho 22, 2006

A guerra deste Verão


Está visto que a miniguerra deste Verão, em décima edição, é a de Israel et alii, entre palestinianos, o Hezbollah e habituais suspeitos. Mais uma vez todos já disseram tudo sobre o tema. Desde os que estão nos segredos das conspirações do Médio Oriente, até aos mais fundamentalistas de um lado e de outro, que repetem sempre o mesmo, qualquer que seja a conjuntura. Deixemos também de lado os especialistas de relações internacionais, que nunca se surpreendem e estão habituados às cruezas da guerra.

O conflito abre sempre nos comentadores uma surda clivagem esquerda-direita, ainda que com tonalidades mais esbatidas e com uma curiosa versão local. Há os defensores de Israel, que diabolizam os palestinianos e se enervam perante a tendência cristã para a compaixão com os mais fracos, nesse caso os habituais cem civis palestinianos e algumas centrais eléctricas, para um militar israelita. A coisa fica mais complexa para eles, pois uma bela parte da direita é católica, partilhando dessa ilusão. Há também os anti-imperialistas do costume, que não perdem uma oportunidade de acusar Israel de existir.

Neste novo episódio há, como sempre, um ponto insofismável: Israel enquanto Estado soberano é uma entidade colonizadora da área étnico-cultural palestiniana, ora formal ora informalmente. Ao contrário do que se pode pensar, as democracias não são apenas a soma da diversidade moral dos seus cidadãos e a democracia israelita é corrompida pela ocupação e sistemática opressão do outro, mesmo que este não seja o que nós gostaríamos que fosse. É esta a ironia do colonialismo, mesmo que o após (muitas vezes a opressão seguinte) possa ser mais sinistra. A Europa conhece bem o tema.

A sequência vertiginosa do ataque a Gaza e ao Líbano poderia confundir a diferença entre os ataques a Israel de uma organização miliciana radicalizada pelo Irão, que já deveria estar dissolvida, e a questão primordial da sabotagem sistemática à construção de um Estado palestiniano viável. Felizmente são muitas as vozes da comunidade judaica, dentro e fora de Israel, que partilham desta preocupação. Ainda ontem recebi de um professor de uma universidade de Lisboa, Alan Stoleroff, um e-mail significativamente intitulado Ester Mucznik não fala por mim. Ainda bem que não fala.

António Costa Pinto

Retirado do Diário de Notícias, 22 de Julho de 2006.