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domingo, julho 16, 2006

O velho e o novo mundo


Na Europa, os países ex-império-colonialistas deparam-se hoje com um problema curioso: dão e não dão o estatuto de cidadão aos ex-colonizados, queixam-se da migração constante, e o que cada vez mais se verifica é que daqui a poucos anos vai ser difícil encontrar um inglês na Inglaterra - ainda vão ficar uns quantos no norte do Reino Unido, só que essa união... - o mesmo se passando em Portugal e em França. Pelo menos.

Mão-de-obra barata vai chegando de todas as partes do mundo onde esses “impérios” dominaram, conseguem muitos encaixar-se nos postos de trabalho mais humildes, vão mandando dinheiro para as famílias enquanto não conseguem criar condições para as levar para junto de si, proliferam mais do que os autóctones europeus, e qualquer dia...

Na Península Ibérica, sem que as condições se possam igualar às de hoje, já dominaram os iberos, os celtas, os godos e mais uma catrefada deles, e o mundo seguiu em frente.

Como em cada segundo do presente começa o futuro, e sem ter qualquer bola de cristal, o que aparenta é que o tempo, talvez mais breve do que parece, se encarregará de trocar os atuais indígenas branquelas por aqueles a quem até há pouco estes chamavam, um tanto pejorativa, ou superiormente, de indígenas àqueles que, sossegados, estavam nas suas terras. Sossegados enquanto não se matavam e comiam uns aos outros! Mas enfim...

Em Londres é difícil ouvir falar inglês dentro dum bus! Línguas estranhas soam para quem é de linguajar original do latim ou anglo-saxão, mas que será árabe, hindi, africano e muito também de português e brasileiro. Mais brasileiro.

Em Portugal os sotaques baralham-se, o que é bonito de se ouvir, às vezes um crioulo de Cabo Verde ou Guiné, de mornas ou coladeiras, outros de rebitas, quizombas ou marrabentas, e pasmem ao ouvir uma outra língua cheia de rrr e shshsh vindos de uma infinidade de eslavos fugidos do tal neoliberalismo da Ucrânia, Moldávia, Rússia, Polônia e mais ainda

Desde há uns anos se inverteu o fluxo migratório. O novo mundo, que causou maravilha e espanto quando surgiu aos olhos dos primeiros europeus que o avistaram, não tardou a virar terceiro, para não dizer quarto Mundo! O primeiro é aquele onde se ganha e gasta bem, o segundo é o que nem fede nem cheira, o terceiro o que alimenta os dois de cima, e o quarto... o que serve para experimentos bélicos e farmacêuticos e ganha doações de medicamentos com prazos vencidos. Vencidíssimos. Generosidade!

Curioso é querer-se hoje combater o que se chama de neo-liberalismo que outra coisa não é e não tivesse já sido vista no passado, com a diferença de nos tempos mais antigos não haver muita moeda para acumular, nem bancos usurários, mas assim mesmo os mais ricos construíam para si palácios, reservavam-se as melhores terras para a caça, mandavam vir para concubinas as jovens mais bonitas das suas terras, etc.

E o povo... O povo? Continua igual. Leva na cabeça e parece que gosta.

Mas voltemos às economias.

Continuemos nós procurando a felicidade, a nossa e dos outros, para começar, à nossa volta neste Mundus Novissimus, que este ano vai enfrentar uma luta muito mais difícil do que vencer a Copa do Mundo: escolher os novos mandatários do povo (?). Já no próximo dia primeiro de Outubro.

Voltemos à Europa, dando uma passadinha pelo Japão. Não fica no caminho geográfico, mas serve para ajudar a compreender o que, sem que se adivinhe o futuro, possa vir a acontecer.

Nas principais cidades do Brasil, a valorização imobiliária nos últimos anos – não se cogita em especulação – quase não tem acompanhado a inflação. Daí o negócio não parecer muito atrativo.

O Japão, depois do restabelecimento da indústria e da economia, a seguir à II Guerra, começou a “sentir” que havia pouca moeda circulante no mercado o que impedia um mais rápido crescimento. Pequeno território, pouca possibilidade de expansão, muito dependente de matérias prima importadas, julgou ter encontrado uma solução tipo “vapt-vupt”: onde é que o povo gasta a maior fatia do seu salário, sobretudo o povo das cidades? Na compra de casa própria. Então a solução é inflacionar o valor dos imóveis, estender o crédito para 20, 30 ou mais anos e esse dinheiro “extra” vai inflamar a circulação monetária, esta a economia, etc. Pensado, feito. Pouco tempo demorou para se verem centenas, milhares de turistas japoneses viajando e gastando mundo afora, em sucessivas levas de “charters” e excursões tipo viaje now, pay later, aparecerem mais Toyotas e Suzukis, computadores e um monte de outras coisas, a maioria das quais se faz hoje na China. E os turistas? Entretanto desapareceram. E a economia do Japão? Tremeu. Tremeu porque o povo ficou endividado!

Estamos a chegar à Europa, onde o custo de um imóvel é algo quase inalcançável para a grande maioria dos jovens mortais que entram no mercado de trabalho. Ainda me lembro de há 50 anos ser avisado de que não devia pagar de aluguel mais do que 1/6 do meu salário! Hoje, em grande número de casos, são necessários dois a trabalhar para que um pague o aluguel e o outro a alimentação, comida, etc. Resultado: não casam, “juntam-se”, descasam mesmo não casados, trocaram afinal de parceiro econômico e desbaratam as suas vidas.

Mas porque não compram casa, em vez de alugar? Primeiro porque o preço dos imóveis é altíssimo, e mesmo que tenham que dar só uma “entradinha”, essa “entradinha” equivale muitas vezes ao salário de um a dois anos de trabalho! Dirão: mas o banco financia até 50 anos e juros muito baixos (estamos a falar da Europa, hein?) Que maravilha! O comprador fica a vida inteira a pagar um imóvel, raro chega ao fim do compromisso, jamais sendo dono do que quer que seja, e o banco... o banco está sempre garantido com a garantia real e com os juros, que é disso que ele vive. E como vivem os bancos!

Quem paga e se arruína: o povo, a classe média, o sustentáculo da nação.

Para quem vai de países terceiro ou segundo mundistas, pode até deslumbrar-se pelo aparente vidaço daqueles que vivem, por exemplo, em Londres.

Mas quando se começa a falar com eles sobre o que resta no bolso e quanto devem de mortgage (prestação do imóvel), cartão de crédito, etc., sente-se que o balanço está um tanto desbalanceado. Sempre a favor dos bancos, of course.

Não sabemos se foi assim que acabaram os grandes impérios, mas o exemplo do Japão dá-nos para pensar um pouco. Trasladando o assunto para o Brasil então...

Solução: acabar com os bancos? Com a inflação imobiliária? Imitar a Revolução Soviética de 1917 e dividir o número de quartos de todas as casas pelo número de famílias da região?

Nada disto parece resolver.

E então? Vamos cruzar os braços e deixar que tudo continue a acontecer talequalmente?

Não vamos. Soluções, em se querendo, aparecem.

A ver.

Francisco Gomes de Amorim

Retirado do A Bem da Nação.