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sábado, agosto 19, 2006

As minhas memórias de Marcello Caetano

No fim da década de 50 do século passado, fiquei ligado à vida de Marcello Caetano, de forma involuntária. O meu pai, que fora seu aluno de Direito, que se tronou amigo, e que, como outros jovens do seu tempo, acreditava no Marcellismo, convidou-o para ser meu padrinho de baptismo.

A madrinha não era a sua mulher, mas a lindíssima, carismática e inteligente Ana Maria, a filha mais nova. Na verdade, já se sabia, na altura, do estado de saúde grave de Teresa de Barros Caetano, irmã do professor Henrique de Barros, opositor ao Estado Novo e, depois de 1974, uma figura importante no PS.

O casal Caetano esteve na cerimónia, na velha igreja paroquial de Algés (na altura vivíamos num modesto apartamento da então vila), mas Marcello, que levava a sério a tarefa dos padrinhos (como verdadeiros substitutos dos pais, no caso de morte destes), preferiu que Ana Maria, jovem e vibrante, assumisse, com ele, esse ónus.

Todos os aniversários recebia, dos padrinhos, uma libra de ouro, mas convivia muito mais com a Ana Maria (que se tornara numa grande amiga e confidente da minha mãe) do que com o Professor Marcello. Fui percebendo, no fim da minha infância, que o Marcelismo se afirmava como aquilo a que a Ciência Política chama “grupo de interesse”, de “pressão”, ou lóbi. E quando, no fim do 1º ano no Liceu Pedro Nunes, um professor de Ginástica (depois próximo do PCP) me deu os “parabéns” pela nomeação do novo primeiro-ministro, percebi que era testemunha privilegiada – embora precoce, e limitada – de uma época determinante.