Diz não ao neoconservadorismo
No último número da Spectator, Malcolm Rifkind, antigo ministro dos negócios estrangeiros inglês, escreve um artigo notável com um título sábio: The Conservatives must reject neo-Conservatism.
Muito resumidamente, os conservadores devem reconhecer que a invasão do Iraque foi um erro grosseiro; não devem aceitar a divisão maniqueísta do mundo em "bons" e "maus"; e devem rejeitar a doutrina da guerra preventiva.
Em Portugal, país onde parece não haver conservadores, estas coisas são difíceis de entender. Aqueles que, da Direita, criticaram a guerra do Iraque e levantaram dúvidas sobre a eficácia da guerra do Líbano foram: a) empurrados para a extrema-direita, b) empurrados para a esquerda, c) acusados de traição, d) acusados de anti-americanismo, e) acusados de anti-semitismo, f) acusados de serem "amigos dos terroristas", e mais um sem número de barbaridades.
Para as outras direitas - a liberal, a neoconservadora, a nova direita, a que ainda não sabe bem o que é - não basta apoiar as mesmas causas. É preciso caucionar os mesmos procedimentos, seguir os mesmos caminhos e dizer sim às mesmas estratégias, mesmo que sejam as erradas.
É claro que os conservadores gostam da América e apoiam o Estado de Israel. É claro que os conservadores querem combater ferozmente o terrorismo. É claro que os conservadores não querem ficar de fora. Mas há várias formas possíveis de o fazer - de participar, de ser amigo dos amigos, de apoiar os aliados, de combater os inimigos comuns.
Um conservador deve, antes de mais, olhar para a realidade. Apreender a realidade e aprender com ela. E se é verdade que a realidade nos diz que, após o 11 de Setembro, o mundo mudou e está em curso uma guerra contra o terrorismo islâmico, também não deixa de ser verdade que a realidade é rica, vasta e nos ensina muitas outras coisas:
Em primeiro lugar, que a invasão do Iraque foi um erro. Foi inútil (não havia armas de destruição massiva) e perniciosa (emergência do Irão como principal potência local e ameaça global, guerra civil, etc.). Os conservadores devem preservar a credibilidade. Negar o óbvio é tarefa para neoconservadores.
Em segundo lugar, e por mais que às vezes dê a ilusão do contrário, que o mundo não é a preto e branco. Não é possível montar uma estratégia eficaz de combate a ameaças como o terrorismo e o fundamentalismo islâmico com base em divisões simplistas do género "bons e maus", "totalitaristas e democratas", "sensatos e loucos". Pelo meio destas dicotomias, existe um sem número de realidades que é preciso compreender. Nem todos os muçulmanos são "maus", nem todos os ocidentais são "amigos", nem todo o mundo árabe é hostil, nem todos os que pensam de maneira diferente são "estúpidos".
Em terceiro lugar, que a doutrina da "guerra preventiva" ou, nas palavras de Tony Blair, do "intervencionismo liberal", é irrealista e, portanto, disparatada. A guerra deve ser feita para combater ameaças sérias e actuais, e nunca para defesa de ameaças presumíveis ou hipotéticas. Para isso existe a diplomacia.
Para um conservador, a diplomacia é a principal via de entendimento dos Estados. Não a diplomacia da "comunidade internacional", personificada na ONU, que já deu provas de servir para pouco. Mas a diplomacia dos Estados, a grande diplomacia, feita por diplomatas informados, com capacidade de dissuasão e facilidade de diálogo, firmes na rejeição de conversar com terroristas, mas sem medo e preconceito de se sentarem à mesa das negociações com outros Estados soberanos e independentes, ainda que inimigos.
O conservador deve privilegiar a diplomacia, exactamente porque, não sendo um pacifista, sabe que, como último recurso, se a diplomacia falhar, há sempre a guerra.
Eduardo Nogueira Pinto
Retirado do blogue da Atlântico.
Muito resumidamente, os conservadores devem reconhecer que a invasão do Iraque foi um erro grosseiro; não devem aceitar a divisão maniqueísta do mundo em "bons" e "maus"; e devem rejeitar a doutrina da guerra preventiva.
Em Portugal, país onde parece não haver conservadores, estas coisas são difíceis de entender. Aqueles que, da Direita, criticaram a guerra do Iraque e levantaram dúvidas sobre a eficácia da guerra do Líbano foram: a) empurrados para a extrema-direita, b) empurrados para a esquerda, c) acusados de traição, d) acusados de anti-americanismo, e) acusados de anti-semitismo, f) acusados de serem "amigos dos terroristas", e mais um sem número de barbaridades.
Para as outras direitas - a liberal, a neoconservadora, a nova direita, a que ainda não sabe bem o que é - não basta apoiar as mesmas causas. É preciso caucionar os mesmos procedimentos, seguir os mesmos caminhos e dizer sim às mesmas estratégias, mesmo que sejam as erradas.
É claro que os conservadores gostam da América e apoiam o Estado de Israel. É claro que os conservadores querem combater ferozmente o terrorismo. É claro que os conservadores não querem ficar de fora. Mas há várias formas possíveis de o fazer - de participar, de ser amigo dos amigos, de apoiar os aliados, de combater os inimigos comuns.
Um conservador deve, antes de mais, olhar para a realidade. Apreender a realidade e aprender com ela. E se é verdade que a realidade nos diz que, após o 11 de Setembro, o mundo mudou e está em curso uma guerra contra o terrorismo islâmico, também não deixa de ser verdade que a realidade é rica, vasta e nos ensina muitas outras coisas:
Em primeiro lugar, que a invasão do Iraque foi um erro. Foi inútil (não havia armas de destruição massiva) e perniciosa (emergência do Irão como principal potência local e ameaça global, guerra civil, etc.). Os conservadores devem preservar a credibilidade. Negar o óbvio é tarefa para neoconservadores.
Em segundo lugar, e por mais que às vezes dê a ilusão do contrário, que o mundo não é a preto e branco. Não é possível montar uma estratégia eficaz de combate a ameaças como o terrorismo e o fundamentalismo islâmico com base em divisões simplistas do género "bons e maus", "totalitaristas e democratas", "sensatos e loucos". Pelo meio destas dicotomias, existe um sem número de realidades que é preciso compreender. Nem todos os muçulmanos são "maus", nem todos os ocidentais são "amigos", nem todo o mundo árabe é hostil, nem todos os que pensam de maneira diferente são "estúpidos".
Em terceiro lugar, que a doutrina da "guerra preventiva" ou, nas palavras de Tony Blair, do "intervencionismo liberal", é irrealista e, portanto, disparatada. A guerra deve ser feita para combater ameaças sérias e actuais, e nunca para defesa de ameaças presumíveis ou hipotéticas. Para isso existe a diplomacia.
Para um conservador, a diplomacia é a principal via de entendimento dos Estados. Não a diplomacia da "comunidade internacional", personificada na ONU, que já deu provas de servir para pouco. Mas a diplomacia dos Estados, a grande diplomacia, feita por diplomatas informados, com capacidade de dissuasão e facilidade de diálogo, firmes na rejeição de conversar com terroristas, mas sem medo e preconceito de se sentarem à mesa das negociações com outros Estados soberanos e independentes, ainda que inimigos.
O conservador deve privilegiar a diplomacia, exactamente porque, não sendo um pacifista, sabe que, como último recurso, se a diplomacia falhar, há sempre a guerra.
Eduardo Nogueira Pinto
Retirado do blogue da Atlântico.
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