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quinta-feira, setembro 28, 2006

V colóquio anual da Lusofonia


Quando em 2001 preparamos o início destes COLÓQUIOS ANUAIS da LUSOFONIA - sob a égide do nosso patrono Embaixador Professor Doutor José Augusto Seabra - queríamos provar que era possível descentralizar a realização destes eventos e que era possível realizá-los sem sermos subsídio-dependentes. O ponto de partida foi a descentralização da discussão e das problemáticas da língua portuguesa no mundo.

De 2002 em diante os Colóquios têm-se realizado em Bragança, graças ao apreciável apoio da CMB na sua aposta de combate à insularidade em termos culturais. Portugal, como toda a gente sabe, é um país macrocéfalo; cada ano que passa existe mais Lisboa e o resto confina-se apenas a paisagem. É muito raro os locais do interior, os mais remotos como Bragança, poderem ter acesso a debates e muito menos duma forma continuada a acontecimentos de considerável importância sobre o futuro da língua. Com a saída de serviços vitais à fixação de pessoas no interior, com a diminuição da população escolar, a falta de atracções a nível de emprego, com todos os poderes decisórios radicados em Lisboa, cidades como Bragança estão por vezes mais perto de Madrid do que de Lisboa. Tentando lutar contra essa tendência, conseguiu-se que estes colóquios se tornassem graças à nossa persistência na única iniciativa, concreta e regular em Portugal nos últimos cinco anos sobre esta temática.

"O povo de Bragança tem uma curiosidade. Neste distrito fala-se um português ainda mais vernáculo do que o português corrente. O certo é que em Bragança, fruto do seu isolamento ao longo de 400 anos – a via IP4 chegou a Bragança em 1991 – permitiu que se mantivesse um falar mais vernacular do que aquele que se fala nas grandes urbes e que serve normalmente depois para padrão da língua portuguesa falada”

“A intenção destes colóquios é diferente da maioria das realizações congéneres. Continuam a caracterizar-se pela sua completa independência de quaisquer forças políticas ou institucionais e asseguram essa sua “independência” através do simbólico pagamento das inscrições de oradores e participantes presenciais, contando com o importante apoio, ao nível logístico, da autarquia que fez a sua aposta cultural na divulgação e realização deste importante evento anual e a ela se associa na componente lúdico-cultural.

Essa sua independência e o seu carácter não-subsidiado permite viabilizar a participação de um leque alargado de oradores, desassombrados, sem peias, sem temores nem medo de represálias dos patrocinadores institucionais sejam eles governos, universidades ou meros agentes económicos. Os encontros e conferências de formato tradicional são reuniões em que o final há uma acta cheia de boas intenções com as conclusões. Os nossos colóquios que em 2002 inovaram e introduziram o hábito de entregar os CD com as Actas no início das sessões, visam aproveitar a experiência profissional e pessoal de cada um dentro da sua especialidade e dos temas que estão a ser debatidos, para que os restantes oradores possam depois partir para o terreno, para os seus locais de trabalho e utilizarem esses instrumentos que já deram resultados noutras comunidades. Ou seja verifica-se a criação de uma rede informal que permitiu um livre intercâmbio de experiências e vivências, que se prolongou ao longo destes cinco, muito para lá do colóquio em que intervieram.

Estes Colóquios podem ser ainda marginais em relação às grandes directrizes aprovadas nos gabinetes de Lisboa, mas na prática têm servido para inúmeras pessoas aplicarem as experiências doutros colegas à realidade do seu quotidiano de trabalho com resultados surpreendentes e bem acelerados como se acabou de ver na edição de 2005, com a campanha para salvar o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa e com o lançamento a nível oficial do Observatório da Língua Portuguesa.

Pelo quarto ano consecutivo teremos o apoio inequívoco da Câmara Municipal de Bragança que vai editar em livro as Actas dos últimos Colóquios.


Este ano, igualmente se mantiveram a Mostra de Artesanato e a Mostra de Livros, e pela primeira vez teremos no seio dos Colóquios dois saraus Musicais. A realidade da Lusofonia - tal qual a entendemos - não se restringe à mera discussão linguística o que só vem demonstrar a vitalidade e a – cada vez mais lata – abrangência destes Colóquios.

Por outro lado, a componente lúdica e cultural destes Colóquios tem permitido nos últimos anos, algo que não sucede em eventos deste tipo: a confraternização cordial, aberta, franca e informal entre oradores e presenciais. Nos anos transactos tivemos sempre almoços entre participantes e passeios culturais ao Parque Natural de Montesinho, Rio de Onor e Cidadela. Este ano, para além disso, teremos uma visita a Miranda do Douro onde seremos recebidos com todas as honras das tradições locais. Deste convívio têm saído reforçados os elos entre oradores e presenciais, que se têm perpetuado a nível pessoal e profissional. As pessoas conseguem dispor de mais tempo para trocarem impressões, falarem de projectos, partilharem ideias e metodologias, fazerem conhecer as suas vivências e pontos de vista, alargando esta rede informal que são os Colóquios Anuais da Lusofonia que neste momento já movimentam cerca de duas mil pessoas através da sua rede.

Não hesito em afirmar que o futuro da língua portuguesa no mundo está - de momento - salvaguardado através do crescimento demográfico do Brasil, Angola, Timor e Moçambique. Por outro lado, regista-se o seu enriquecimento através das línguas autóctones e dos crioulos, que têm o português como língua de partida. Grande parte das línguas tende a desaparecer por ausência de influências novas, mas o português revela nalguns locais uma vitalidade fora do normal. A miscigenação com os crioulos e com os idiomas locais vai simultaneamente permitir o desenvolvimento desses crioulos e a preservação do português. Por isso, não devemos ter medo do futuro do português porque ele vai continuar a ser falado no mundo e a crescer nos restantes países. Pode não ser porém o Português que falamos hoje aqui mas uma variante bem mais pujante como é a Brasileira.

Que ninguém se demita da responsabilidade na defesa do idioma independentemente da pátria. Falemos Português independentemente da nossa cidadania.

Hoje como ontem, a língua de todos nós é vítima de tratos de polé. Longe vai o tempo em que dava gosto ouvir os locutores de rádio e televisão porque eram óptimos exemplos de como falar bem Português. Hoje é a banalização, o laxismo, e a ignorância. Infelizmente, a população está pouco consciente da importância e do valor do seu património linguístico. Os longos anos da ditadura fizeram perder muita da riqueza dos regionalismos, o centralismo lisboeta uniformizou ainda mais os falares. Os sotaques são criticados e menorizados quando não servem de elemento de discriminação profissional. Apesar da generalização do ensino e do seu acesso ilimitado a todas as classes, baixou o nível de conhecimentos e ás pessoas falta-lhes o gosto de bem falar e escrever. Quase todos se demitiram da responsabilidade que lhes cabe na defesa da língua que fala. Temos apenas o que merecemos, esta é a sociedade que responde com o mediatismo, o espectacular e o medíocre. A nossa conformada indiferença não passa duma conivência. Detestamos o rigor e a exigência para facilitarmos a pressa e a santa ignorância, lemos pouco e mal pois habituamo-nos a alucinar diariamente frente ao pequeno ecrã da televisão do nosso contentamento. Somos culturalmente derrotistas, pessimistas, desorganizados, conservadores, masoquistas e rimo-nos de nós mesmos ao falarmos do país pequeno e atrasado. No entanto temos o maior isto, o maior aquilo, basta consultar o livro de recordes do Guiness.

Nestes colóquios temos vindo a alertar para a necessidade de sermos competitivos e exigentes. Sempre afirmei que não podemos nem devemos esperar pelo Estado ou pelo Governo e tomarmos a iniciativa em nossas mãos. Assim como criamos estes Colóquios, também cada um de nós pode criar a sua própria revolução, em casa com os filhos, com os alunos, com os colegas e despertar para a necessidade de manter viva a língua de todos nós. Sob o perigo de soçobrarmos e passarmos a ser ainda mais irrelevantes neste curto percurso terreno.

Urge pois apoiar uma verdadeira formação dos professores da área, zelar pela dignificação da língua portuguesa nos organismos nacionais e nos internacionais dotá-los com um corpo de tradutores e intérpretes profissionalmente eficazes. Jamais podemos esquecer que a língua portuguesa mudou através dos tempos, e vai continuar a mudar. A língua não é um fóssil. Também hoje, a mudança está a acontecer. Nas comunidades PALOP as novas gerações falam os dialectos locais e aprendem inglês relegando o Português para níveis residuais, porque poucos são os que têm orgulho de falar Português.

Portugal e Brasil continuam a valorizar o acessório e a subestimar o essencial. O tão apregoado Acordo Ortográfico, ao contrário do que muitos defendem tem uma importância diminuta. Tal como em França se tem provada a língua não se faz por decreto mas sim por vontade popular, é a mais democrática das armas, e é o povo quem a domina. Devemos deixar que a língua siga o seu rumo natural e seja cada vez mais viva em vez de a amordaçarmos a Acordos Ortográficos. A língua não se decreta! Todos nos entendemos mesmo com grafias diferentes. A língua deve evoluir ao sabor de cada país com palavras distintas, grafias e vivências diferentes.

Os portugueses e brasileiros não têm uma verdadeira política da Língua, e não conjugam objectivos através duma CPLP adormecida enquanto franceses e ingleses estão bem activos. O actual impacto mundial da língua portuguesa existe sobretudo por acção dos outros. A R. P. da China prepara os seus melhores quadros para dominarem a língua portuguesa e desta forma conquistarem os mercados lusófonos. Irá depender sobretudo do esforço brasileiro em liderar que a Lusofonia poderá avançar, levando a reboque os países africanos ainda cheios de complexos do colonizador Portugal. A língua portuguesa é alimentada de forma diferente de acordo com as realidades sociais, económicas, culturais dos países onde está instituída, geograficamente distantes uns dos outros. A Língua Portuguesa pode ser o veículo de aproximação entre os países lusófonos e as comunidades lusofalantes em todos os continentes. No entanto vivemos de costas voltadas uns para os outros. Por motivos políticos, por medo de invasões passadas e futuras, crescemos ignorando o drama dos nossos irmãos lusofalantes da Galiza.

Há 5 anos que sonho com este colóquio dedicado a este tema tão especial. Desde o primeiro ano que temos tido uma representação da Galiza em todos os Colóquios. Até hoje, porém jamais os galegos se mostraram com forças para aceitarem o desafio. Estou convencido de que serão capazes de deixarem de olhar para o próprio umbigo e pensarem no que é melhor para todos e participarem construtivamente neste evento.

Apraz-me registar que pela primeira vez se conseguiram reunir debaixo dum mesmo tecto, as correntes intelectuais divergentes da Galiza, que também têm passado os anos de costas voltadas uns para os outros, sem conseguirem estabelecer uma união e convergência na luta comum que é a preservação da língua de todos nós.

Para tal muito devemos ao incansável trabalho do Dr. Ângelo Cristóvão membro dos Comités destes Colóquios e presença habitual em colóquios anteriores. Resta-me apelar aos presentes para que saibam escutar e debater de forma tolerante as opiniões divergentes que aqui se irão expor, na certeza de que só o compromisso, a concertação e a união de esforços poderá levar ao engrandecimento da grande pátria universal que é a língua portuguesa, independentemente da nacionalidade dos seus falantes, independentemente das suas convicções políticas ou religiosas.

É neste momento histórico de viragem que se espera surjam os grandes inspiradores, capazes de aglutinar sob uma plataforma comum vários pontos de vista divergentes. Sabemos que a divisão só favorece aqueles que não acreditam na vitalidade e no relevo da língua que falamos. Ainda no ano passado aqui se discutiu como a língua do povo colonizador português serviu para aglutinar a resistência timorense contra os invasores indonésios e actualmente serve para enriquecer o próprio idioma local Tétum. Tal como os timorenses que lutaram durante mais de 24 anos pela sua independência, podem os galegos aspirar a que a sua língua seja universalmente falada no seio da Comunidade Autónoma da Galiza como membros de pleno direito daquela Lusofonia global e globalizante em que acreditamos.

A terminar quero referir que este ano dentre meia centena seleccionamos 27 oradores, o que é um número recorde de participações desde sempre. Estão representadas as seguintes Universidades: Corunha, Vigo, Santiago de Compostela, Valhadolid, Salamanca, Coimbra, Minho, Évora, Madeira, Açores, Ljubljana (Eslovénia), Université Lumière Lyon2 (França), Università Degli Studi Suor Orsola Benincasa, Nápoles (Itália), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Brasil, Academia Feminina de Letras do Rio Grande do Norte e as seguintes Associações: MDL (Movimento de Defesa da Língua (Galiza), Associação de Amizade Galiza-Portugal, AGAL, Plataforma para a emissom das rádios e televisons portuguesas na Galiza, Confraria Queirosiana e Arte Tripharia (Galiza).

Espero que no final deste encontro possam os presentes regressar aos seus locais de residência e de trabalho com soluções e propostas viáveis para aceitar esta Lusofonia com todas as suas diversidades culturais sem exclusão de todas as que com a nossa podem coabitar.

Chrys Chrystello

Via o A Bem da Nação.


Hoje nas bancas

Heróis do maoísmo internacional


Dirijo esta carta a César Teles e sua esposa Maria Amélia, que estão processando o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra por crime de tortura. Não sei se vocês sofreram mesmo o que dizem ter sofrido no Doi-Codi. Isso deve ser investigado com todo o rigor e, se confirmado, vocês devem receber todas as compensações judiciais, morais e financeiras que lhes caibam. Até a sentença final da Justiça, tudo é hipótese e conjetura, nada mais.

Há, no entanto, alguns fatos que são certezas incontestáveis. Primeiro: na época dos crimes alegados, vocês dirigiam a gráfica do PC do B, o Partido Comunista do Brasil. Segundo: o PC do B era o partido maoísta, encarregado de legitimar, enaltecer e, se possível, expandir pelo mundo o regime mais assassino, genocida e torturador que já existiu na história humana, responsável pela morte de pelo menos 60 milhões de pessoas, o triplo do que Stalin matou na URSS ou Hitler na Alemanha. Terceiro: as torturas praticadas no Laogai – a rede de presídios políticos chineses – não consistiam apenas em choques elétricos e queimaduras com pontas de cigarros, como aquelas que vocês alegam ter padecido. Incluíam e incluem espancamentos e mutilações variadas (de mãos, braços, pés, orelhas e narizes), além de um vasto repertório de agressões psicológicas calculadas por engenheiros comportamentais para quebrar a última resistência dos mais valentes e obstinados. O quarto fato é o mais bonito de todos: as pessoas que foram submetidas a esse tratamento hediondo nem sempre o foram sob a suspeita de promover, como vocês, a violência armada a soldo de um regime inimigo. Eram acusadas de ler bíblias, de ter uma cabra escondida para dar leite a seus filhos, de comer porções de arroz além do permitido pelo governo.

Vocês ajudaram a embelezar a imagem do regime que fez essas coisas, e jamais deram o mínimo sinal de arrependimento. É absolutamente ridículo pretender que vocês sejam contra a tortura. Vocês só não gostam de sofrê-la, é claro. Mas nunca acharam ruim que os chineses a praticassem em escala superior a tudo o que a imaginação macabra de ficcionistas doentes pudesse ter inventado nos séculos anteriores. Mesmo que o coronel Ustra ou qualquer outro houvesse feito o que vocês dizem que fez, ainda seria bastante inofensivo se comparado aos comunistas chineses a cujo serviço vocês estavam na ocasião.

Moralmente, vocês -- ou qualquer outro militante do PC do B que antes de acusar os crimes da ditadura brasileira não confesse os seus próprios -- estão abaixo de delinqüentes comuns, que com freqüencia se envergonham do que fazem ou pelo menos não insistem em ser premiados por isso.

Talvez vocês tenham direito à sentença declaratória que exigem, ou até a indenizações. Mas não têm direito a nenhuma piedade, consideração ou respeito. Se ganharem o processo, peguem logo seu atestado de vítimas, seus diplomas de heróis do maoísmo internacional, e vão para casa rir, com o proverbial cinismo comunista, da ordem jurídica burguesa que uma vez mais terá servido de instrumento para a sua própria destruição.

Olavo de Carvalho

Retirado do Jornal do Brasil, 14 de Setembro de 2006.

O Aborto, sob a Visão Liberal


Um tema polêmico que tem sido requentado de tempos em tempos é o relativo à questão do aborto, o qual, a propósito, anda rondando as tribunas da Câmara e do Senado. Da parte dos adeptos das teorias coletivistas, estão os defensores da legalização indiscriminada; na contraparte, estão as pessoas que se amparam na religião cristã, a defender a proibição.

Um dos argumentos que mais tem sido utilizados, com grande sucesso, é o de que a mulher merece ter o direito de decidir sobre seu próprio corpo. Uma nota de destaque com relação a esta afirmativa é que esta tem ganhado a adesão de pessoas que pensam estar agindo com espírito liberal! Enquanto marxistas, coletivistas e liberais desatentos, ou falsos liberais, vão engrossando o coro a favor da liberação do aborto, vão ao mesmo tempo vergando a rigidez dos conservadores, sob a alegação de que a vivemos em um país laico, em uma explícita manobra para desqualificar-lhes o discurso religioso e assim colocá-los fora do páreo.

O objetivo deste artigo é, em primeiro lugar, colocar o verdadeiro ponto de vista da doutrina liberal, que, por completo desconhecimento, tem sido solenemente ignorada do debate, e isto será feito por meio de esclarecer algumas confusões que tem sido difundidas amplamente, quase sempre de forma propositada.

A começar, vamos voltar sobre a questão de a mulher ter o direito de decidir sobre o próprio corpo. O que é de estranhar, primeiramente, é que este “direito” tenha sido defendido tão exaustivamente por partidos e ONG’s de esquerda: parecem estar pregando contra si mesmos, não é mesmo? Todavia, cuidado com as aparências! Ainda comentaremos sobre este tipo recorrente de discurso, mas o principal é que se saiba: o que os partidos de esquerda na verdade desejam, é ter o controle da sociedade nas mãos do Estado!

Esta gente acredita piamente que problemas tais como de pobreza, desemprego e de criminalidade, podem ser resolvidos por meio do controle de natalidade, e isto inclui, sem dúvida, a institucionalização do aborto. Na cabeça desta gente, se há nove chapéus e dez cabeças, o certo a fazer é cortar uma cabeça! (ou diremos, um feto?).

Portanto, mulheres, não se enganem, pensando que, sob um governo socialista, vocês terão direito ao próprio ventre! Ora, do que se pode mais, se pode menos: vencida a barreira mais problemática, qual seja, a de derrubar os fundamentos filosóficos, morais e mesmo religiosos e partindo-se para a eliminação institucionalizada do ser humano em formação, decidir quem poderá fazê-lo não passará de um detalhe operacional. Aliás, a bem da verdade, quase sempre o Estado fará com que as próprias mulheres assumam por si mesmas o ônus e a culpa por abortarem, seja por meio de benefícios, seja estabelecendo sanções restritivas de direitos, enquanto ele posará de isento e benfeitor da humanidade.

Agora sim, vislumbrando o problema sob a ótica da doutrina liberal: é certo que a mulher tem direito a dispor de seu próprio corpo. Oportunamente, este é um dos fundamentos do liberalismo: o corpo é a primeira propriedade de um indivíduo! Entretanto, precisamente por esta razão, é que a tese da liberação do aborto não pode ser acolhida. Explica-se: a vida começa com a nidação, isto é, com a fertilização do óvulo pelo espermatozóide, cujo resultado será o ovo, ou zigoto.

O zigoto, por sua vez, não é o corpo da mãe, nem lhe faz parte, assim como também não é seu pai, nem dele faz parte. O zigoto possui um DNA diferente do pai e da mãe, denunciando a formação de um novo indivíduo, ou melhor, de um novo ser humano. Do ponto de vista da doutrina liberal, portanto, não será exagero dizer, conquanto possa ser hilário, que o zigoto é a pessoa mais pobre da sociedade, pois todo seu patrimônio consiste em uma única célula! Felizmente, a prosperidade vem célere, pois bastam alguns minutos para contemplarmos centenas de novas células, em um flagrante do triunfo da vida: ele não quer morrer – pelo contrário, seu ânimo é de crescer e de se desenvolver!

Por outro lado, não é suficiente que esteja no corpo de sua mãe, e dela fazendo uso, para que ela reclame o direito de expulsá-lo. Se uma pessoa vê outra se afogando em um lago, pode considerar suas possibilidades de ir salvá-la – considerações que se situam no campo da moral (se deve salvá-la) e da conveniência (se pode salvá-la, sem incorrer em perigo ela própria). No entanto, se alguém empurra esta pessoa, jogando-a na água, é seu dever salvá-la, mesmo sob risco de perigo, ou de outra forma será acusado de assassinato.

Com a gravidez, da mesma forma, o feto (e depois, a criança), depende do corpo da mãe e dos cuidados maternos, assim como uma pessoa que se afoga necessita de intervenção externa que a socorra, e, não tendo concorrido ele mesmo para a sua situação, é dever da mãe prover as suas necessidades, assim como é dever daquele que empurrou salvar a vítima, porque ambos são os responsáveis pelo que deram surgimento, com seus próprios atos.

Resolvida esta questão – que desqualifica, por absoluta irrelevância, argumentos marginais, tais como o que pregam que o embrião ou o feto não sente dor (não é por que alguém não sente dor que podemos matá-lo), ou o momentum de receber a alma (quem pode ao certo determinar quando isto acontece?) ou o mais terrível, que diz que embrião ou feto não é gente (será “pedra”, “alface”, ou “lombriga”?), a única solução possível para a doutrina liberal é defender veementemente o direito do novo ser humano à vida, ressalvados os casos de estupro (como já comentado) e de risco de vida para a mãe (obviamente), aliás, plenamente de acordo com a sabedoria da lei vigente.

Querer especular que uma gravidez possa ser interrompida, diga-se, aos dois ou aos três meses, ou aos seis ou nove, é absolutamente desnecessário, e pior do que isto, é a porta aberta do relativismo que pode autorizar o assassínio de um “serzinho” indefeso minutos antes de vir a respirar, ou mesmo depois, porque, ora, como diz aquela piadinha maldosa, depois que entrou a cabecinha...

Klauber Cristofen Pires

25 de Setembro de 2006. Retirado do Blogs Coligados.

Uma perda deste 11 de Setembro

Morte de Joachim Fest (1926-2006), que em 1973 publicou uma monumental biografia de Hitler. Fest representa o intelectual católico conservador, para quem há valores que não cedem aos poderes deste mundo. O seu último trabalho em vida foi o livro dos dias finais de Hitler e do III Reich que inspiraram A Queda. Precisamente na semana da sua morte, saía a sua autobiografia Ich nicht.
Comparar com as flutuações de Günther Grass, entretanto um autor de que francamente gosto... Fest morreu de cancro, em 11 de Setembro, em Kronberg im Taunus. Prometemos falar mais dele, no próximo número de Futuro Presente.

Jaime Nogueira Pinto

Retirado d'O Futuro Presente.

Dúvida blogueira

Será do meu computador, ou talvez da ligação, ou nos últimos 2 ou 3 dias quando se tenta actualizar o blogue isto roda, roda, roda e nunca passa do 0%?
Tenho postado cada postal umas 3 vezes para aparecer...

Novos termos gramaticais geram controvérsia entre educadores


"Uniformizar, autonomizar, valorizar". Estes são os três verbos mais citados por quem defende as virtudes da nova Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (TLEBS). Já os seus críticos recorrem ao antigo substantivo "hecatombe" (actual nome próprio comum) para definir o impacto que poderá ter no desempenho dos alunos de Português.

A TLEBS, aprovada pela portaria 1488/2004, encontra-se actualmente em fase experimental de implementação, tendo em vista a sua generalização em 2009. No último ano lectivo foi testada por 90 professores em 17 escolas do País. Este ano, se as previsões forem cumpridas, será generalizada aos 3.º, 5.º e 7.º anos do Ensino Básico, seguindo-se em 2007 os 4.º, 6.º e 9.º anos e, em 2008, no 8.º ano e no Secundário. Ainda assim, poucos serão os cidadãos, nomeadamente os pais, a conhecerem o seu real alcance.

Em causa está uma revisão completa dos termos gramaticais utilizados em Portugal. A TLEBS vem substituir uma nomenclatura que vigora desde 1967: eliminando termos ultrapassados, acrescentando muitos outros adaptados ao mundo actual (inclui 687 designações, 210 das quais novas) e reorganizando os grupos em que estes se inserem.

"Uma mudança necessária há 30 anos", diz Paulo Feytor-Pinto, da Associação de Professores de Português (APP), parceira do Ministério da Educação na reforma. "Nas últimas décadas, os estudos linguísticos produziram grandes transformações, no mundo e em Portugal, que não foram incorporadas. A antiga terminologia dividia-se na gramática da palavra: a morfologia, e na gramática da frase: a sintaxe. Hoje há, por exemplo, uma coisa muito importante que é a gramática do texto, a forma como este é construído."

O problema, para os críticos da reforma, poderão ser os efeitos colaterais de uma nomenclatura tão ampla e, em muitos caso, complexa: "Sou favorável ao uso da terminologia no ensino universitário e na formação de professores", diz Álvaro Gomes, pedagogo com mais de 30 anos de experiência. "Não no ensino básico. Seria muito grave. Temo que resulte daqui uma geração de alunos autistas, ou quase."

"Nenhum pediatra diz a uma criança com dores de barriga: você tem uma crise gástrica moxirreica. isto é uma questão de senso-comum", considera. "No entanto, crianças de seis podem ser confrontadas com questões como: 'Explicite o valor anafórico do conector'. Que benefícios é que isso vai trazer?"

Gramática no 1.º ciclo

Luís Capucha, director-geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular (DGIDC), admite que a TLEBS vai implicar que o 1.º ciclo passe a "incluir uma componente de ensino das regras da língua". Porém, garante: "Não há nenhum risco de que uma criança de seis anos seja confrontada com um palavrão desse tipo. O que nós pretendemos é que o professor entenda o termo, de forma a poder transmitir o conhecimento da língua aos seus alunos", explica.

A fase de implementação inclui várias conferências entre profissionais (a mais recente realizou-se ontem, na Gulbenkian) e dezenas de acções de formação - já realizadas ou em curso por todo o País . Além disso, no site da DGIDC foi criado um fórum para troca de dúvidas. A meta deste trabalho, diz Luís Capucha, é garantir "professores e um sistema educativo bem preparados", mas também obter "contributos para melhorar a própria TLEB.

Pedro Sousa Tavares

Retirado do Diário de Notícias, 28 de Setembro de 2006.

A "novilíngua" profetizada por George Orwell?

quarta-feira, setembro 27, 2006

Groo


A criação mais bestial de Sérgio Aragonés.

Outros tempos

terça-feira, setembro 26, 2006

Pequena misantropização

A revolução da mulher


Quando se fala tanto na revolução global causada pelos processos eletrônicos de comunicação, até o ponto de qualificar-se a nossa era como sendo a da Informática ou da Cibernética, parece-me que assiste razão aos que põem antes a tônica na revolução da mulher, referindo-se ao papel que o chamado belo sexo passou a representar no mundo, subvertendo-lhe as coordenadas fundamentais.

Trata-se de um movimento silencioso e gradual, sem ímpetos e arroubos repentinos e espetaculares, cujas raízes se confundem com as da própria civilização, assinalando o ponto culminante de suas conquistas no desenvolvimento dos valores culturais. Não há dúvida que as condições de sua eclosão se devem sobretudo ao sexo masculino, com o seu avassalador predomínio no campo das ciências naturais e humanas, por mais que se diga que todo grande homem pressupõe uma grande mulher e seu trabalho comum complementar.

O certo é que, no giro de poucas décadas, a mulher veio competir com o homem em todas as suas atividades, não apenas nas que exigem apuradas inteligência e sensibilidade, como se dá com as letras e as artes, mas também nas que exigem vigor físico e muscular. A última delas é nas construções civis, para assentamento de tijolos e blocos de cimento.

Há poucos anos uma minoria, já agora a mulher predomina sobre o homem no exercício de muitas profissões. Para dar um exemplo, em 1930, em minha classe na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, com mais de 250 colegas, havia apenas duas moças, quando agora elas constituem maioria, não raro na vanguarda dos estudos.
Já agora estamos longe do tempo da “senhora do lar” que não tenha outra ocupação senão essa, constituindo o centro de gravidade da família, enquanto que, hoje em dia, prevalece o seu trabalho externo, confiados os filhos às babás e às creches.

Essa emancipação da mulher ocorreu sem perda de nível cultural, primando ela em muitos setores do conhecimento e das artes, superados antigos preconceitos quanto à sua capacidade criadora ou participante. Estamos perante um fato social novo, de outra natureza, como diversa expressão do “eterno feminino”, o qual, de uma forma ou de outra, representa sempre componente essencial de nosso ser social. Trata-se de um valor positivo, sobretudo no plano religioso, onde, a meu ver, o catolicismo se sobressai por ser de Cristo e também de Maria.

Todavia, como toda luz possui a sua sombra, essa alteração substancial no papel da mulher representou uma queda no que se refere à estrutura familiar, mesmo quando ela não abre mão de sua concomitante missão de mãe ou de esposa. A família, que a Constituição continua considerando a “base da sociedade”, já não é a mesma, visto como o seu centro referencial sofreu uma inflexão violenta, alterado que ficou o polo condicionador por excelência de seu equilíbrio, dependente da perene dedicação materna. Diga-se o que se quiser a respeito, o que se deu foi uma diminuição no amor como vivência e convivência.

Como ninguém pode desfazer alterações criadas pela “revolução da mulher”, que, no dizer de Bobbio, é a “maior revolução de nosso tempo”, cabe-nos transformar esse assunto no maior problema de nosso tempo, reclamando a atenção dos filósofos, sociólogos, políticos, de todos, em suma, em busca de adequada solução, que vai desde a intimidade do lar até a responsabilidade da mídia eletrônica, pois, a babá da criança abandonada a si mesma ou entregue aos cuidados de terceiros, pode ser um deformador programa de televisão.

Pode-se dizer que uma das preocupações maiores deste começo de milênio é a indagação sobre a posição social da “dona de casa”, muitas vezes chefe de família, tão freqüente é o abandono imotivado da prole pelo marido ou pelo companheiro, tranqüilamente esquecido de seus deveres paternos. Nesse sentido, sempre estranhei o alheiamento do Ministério Público, ao qual cabe a primordial missão de zelar pelos interesses difusos e coletivos.

Tem-se falado, ultimamente, em “aposentadoria das donas de casa”, quando não exerçam outra função. Tal assunto não pode ser posto de lado com um piparote, pois a “Previdência Social” tem-se tornado cada vez mais um ramo da “Assistência Social”, como se deu com a sua extensão aos trabalhadores rurais, independentemente de qualquer contribuição anterior. O desequilíbrio crônico da Previdência Social resulta, em grande parte, da carência de serviço social prestado pelo Estado, sobretudo no tocante ao “bem da família”, que tem sido objeto de muita promessa e reduzida ação positiva.
O problema da “exclusão social” não pode ser tratado apenas em termos de ordem financeira, reduzido tão somente ao superamento do desemprego – o mal maior da atual e mundial economia capitalista – e ao desequilíbrio que existe na contrastante riqueza existente entre regiões e classes sociais de um País, de que o Brasil é exemplo apavora.

Pois bem, a análise da “revolução da mulher” põe em pauta uma série de gravíssimos problemas, tanto para o legislador como para os “vigilantes da lei”, uma vez que não se pode deixar de situar no ápice do poder-dever do Estado a obrigação de preservar, acima de tudo, o valor da pessoa humana, que, em meus escritos, tenho considerado o valor-fonte de todos os valores.

Miguel Reale

26 de Março de 2005

Estará a Europa a ficar encurralada?


Estará a Europa a ficar encurralada, no estruturante dos seus valores (a liberdade de debate, p.e.), pela onda de propaganda e de agressividade do radicalismo islâmico? A agenda do diálogo democrático - político, social, cultural ou filosófico - terá de ser necessariamente marcada pelas "massas ululantes" incendiadas pelos líderes fundamentalistas que se apropriaram do islão anti--islão (na verdade, a violência não pertence à essência do islão)?

Primeiro, tivemos o episódio das caricaturas, já de si preocupante, mas que resultou, de facto e segundo os seus próprios autores confessaram, num acto provocatório em direcção às tranquilas comunidades islâmicas residentes nos países nórdicos - e daí o protesto sensato dos que nele viram um acto gratuito e contraproducente. Hoje, temos o já célebre discurso de Bento XVI na Universidade de Ratisbona, sobre o qual muitos falaram sem o ler, descontextualizado pelo simplismo dos jornalistas que reduziram as palavra do Papa (e, logo, o seu suposto pensamento) à simples pergunta-citação do imperador bizantino Manuel II Paleólogo. Na verdade, a questão levantada pelo Papa, profunda do ponto de vida do debate entre religiões e entre culturas, a da relação entre razão e fé, não contém qualquer agressividade ou provocação em direcção ao "outro", mas tão-só o convite a um democrático e necessário tema de reflexão.

A defesa do Papa, sobretudo após a sua posterior explicação quanto ao sentido das suas palavras e à essência do seu pensamento, deveria ter sido assumida por muitos políticos e intelectuais europeus (o ex-presidente americano Clinton e, também, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, deram-lhes uma clara lição de coragem e de coerência). Mas, nos dias de hoje, a Europa está semeada de Chamberlains e de Daladiers, os tais líderes que se curvaram perante Hitler, pensando encontrar a paz com a sua cobardia e a venda de povos da Europa a Hitler. Foram aplaudidos por opiniões públicas que, como se entende, queriam a paz e depois viram os seus filhos morrer às centenas de milhares para vencer o monstro. A paz veio à custa do "sangue, suor e lágrimas" de Churchill, dos exércitos americanos e da resistência de De Gaulle. Chamberlain e Daladier repousam, hoje, nos poços da História.

Tariq Ramadan, insuspeito catedrático de Estudos Islâmicos e investigador principal em Oxford, num texto publicado por diversos jornais europeus (a começar pelo também insuspeito El País), embora admitindo que os exemplos escolhidos pelo Papa para abordar a relação entre a violência e o islão "são discutíveis, para não dizer surpreendentes", pergunta, no entanto: "Foram [as suas palavras] um insulto pelo qual se haja de pedir uma desculpa formal? É justo ou sensato que os muçulmanos se ofendam com a citação - só porque foi escolhida pelo Papa -, quando ignoram diariamente, desde há cinco anos, as interpretações sobre o significado de jihad ou o uso da força?"

E, apesar de aqueles que já vêem no Papa um novo alvo para o seu antiocidentalismo militante (e falo dos europeus) e procuram inventar "sinais" de uma descolagem de Bento XVI do diálogo de religiões (o que os factos desmentem, desde a viagem à Turquia ao agora anunciado encontro do Cairo), Tariq Ramadan, sem deixar de manifestar as suas discordâncias sobre o modo como ele parece ver o que chama de "verdadeiro debate" da relação com o islão, "racionalmente" sublinha depois o erro de muitos muçulmanos e dos seus aliados europeus: "Bento XVI é um homem do seu tempo e as perguntas que faz aos muçulmanos correspondem a esse tempo, umas perguntas que devem e podem ser respondidas com clareza e argumentos sólidos."

O muçulmano Ramadan levanta depois outra questão: "O aspecto mais inquietante da crise é talvez o de que a maioria dos comentaristas, e em especial os comentaristas muçulmanos, parece ter ignorado o autêntico debate lançado por Bento XVI." E uma questão final, a mais importante e profunda, a meu ver, a de um diálogo desarmado, por parte de uma Europa de raiz cristã. "No seu discurso, o Papa recorda aos secularistas racionalistas", escreve o catedrático de Estudos Islâmicos, "desejosos de eliminar da Ilustração todas as referências ao cristianismo, que essas referências são parte fundamental da identidade europeia. E que lhes será impossível entabular um diálogo interconfessional se não podem aceitar as bases cristãs da sua própria identidade (sejam ou não crentes)".

Não sei se Tariq Ramadan leu o excelente livro de André Retzler "Os intelectuais contra a Europa" ou se recordou os intelectuais e políticos europeus dos "movimentos da paz" contra a "ameaça" das acções de defesa do Ocidente face à real ameaça dos mísseis soviéticos. Hoje, independentemente do debate político e filosófico, vemos como as sementes da demissão deram frutos.

José Manuel Barroso

Retirado do Diário de Notícias, 26 de Setembro de 2006.

Perdão, mas...

...entre o trabalho e os 3 dvds que me chegaram ontem às mãos, a blogação continua amanhã.

domingo, setembro 24, 2006

Juventude com Cristo

Conheciam Hillsong United? Os muçulmanos não são os únicos a viver a sua fé...

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Constatação

Este Domingo está muito braindeadish...

Você é o Homem-Aranha

You Are Spider-Man

Quick and agile, you have killer instincts (literally).
And that kind of makes up for the whole creepy spider thing.

"You tend to play it conservative"

You Are From Saturn

You're steady, organizes, and determined to achieve your dreams.
You tend to play it conservative, going by the rules (at least the practical ones).
You'll likely reach the top. And when you do, you'll be honorable and responsible.
Focus on happiness. Don't let your goals distract you from fun!
Don't be too set in your ways, and you'll be more of a success than you ever dreamed of.

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Oficialmente


Um amigo, a quem considero o maior e mais sério conhecedor do problema do aborto no Brasil, me abre os olhos para esta seqüência de informações, cuja lógica implacável acaba diluída no fluxo diário de notícias:

1. Em dezembro de 2004, Lula colocou oficialmente a legalização do aborto entre as prioridades do seu governo.

2. Em abril de 2005, comprometeu-se com a ONU, oficialmente, a legalizar o aborto no país.

3. Em agosto, escreveu uma carta à CNBB negando oficialmente qualquer intenção de realizar as promessas 1 e 2.

4. Em setembro, começou a realizar ambas, enviando à Câmara um projeto de lei que descriminalizava oficialmente o aborto.

5. Em dezembro, incluiu oficialmente a legalização do aborto entre as diretrizes do seu programa de governo para o segundo mandato.

Como a população brasileira é maciçamente contra o aborto, toda menção ao assunto, que por si só bastaria para arruinar a candidatura do engraçadinho, é meticulosamente evitada na sua campanha eleitoral. A grande mídia, obsequiosa e, aliás, comprometida por mil e um acordos com ONGs bilionárias e organismos internacionais abortistas, não faz ao candidato nenhuma pergunta a respeito.

É, portanto, oficial:

1. Lula não tem o menor respeito pela sua própria palavra e pela sua própria assinatura, que ele põe oficialmente em qualquer papel que lhe interesse no momento, sem qualquer intenção de honrá-la. O critério do cronista José Simão para distinguir entre Lula candidato e Lula presidente continua portanto válido e infalível: "Quando ele promete merda, é candidato; quando faz merda, é presidente". O caso do abortismo sugere apenas que nem sempre a matéria excrementícia prometida é aquela que vem a ser realizada: Lula não é confiável nem mesmo na sua produção fecal.

2. Lula não tem o menor respeito pela religião que diz professar. Mas não me espanta que seja cínico ao ponto de tentar enganar a Igreja, uma vez que se acha esperto o bastante para enganar o próprio Deus, como o fez ao alegar que podia comungar sem confessar por ser "homem sem pecados". veja: http://www.olavodecarvalho.org /semana/050416globo.htm .

3. Lula não tem o menor respeito pelo eleitorado, ao qual ele sonega informação essencial sobre seus planos de governo.

4. Da minha parte, não tenho o menor respeito por Lula, que os fatos aqui relatados provam ser um farsante maquiavélico e perigoso. Qualquer palavrinha que eu tenha escrito em favor dele, mesmo décadas atrás e antes que eu soubesse da existência do Foro de São Paulo, deve ser-me perdoada como expressão da minha profunda estupidez e substituída por um palavrão equivalente e contrário.

5. Muito menos tenho algum respeito pela grande mídia brasileira, que, com exceções, se tornou uma vasta societas sceleris empenhada em ocultar, por dinheiro ou por ambição de poder, tudo o que possa obstar a realização dos planos criminosos do Foro de São Paulo.

Peço a todos os leitores deste artigo que dêem a máxima divulgação, por todos os meios ao seu alcance , aos fatos que ele revela. Nossa única esperança de que as eleições deste ano não sejam uma farsa petista como as de 2002 é criar de improviso uma rede alternativa de informações que se sobreponha ao poder do crime organizado em que se transformou o jornalismo nacional.

Olavo de Carvalho

Retirado do Diário do Comércio, 20 de Setembro de 2006.

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Os cavalos de Tróia


Isto é, podem os Estados da civilizada União, de repente, soçobrar na guerra civil?

Desconfiai dos gregos e dos seus presentes.” Com o alargamento desenfreado da União Europeia, há lá (cá) dentro cavalos de Tróia?

Isto é, podem os estados da civilizada União, de repente, soçobrar na guerra civil?

Há tempos atrás, um velho membro, a França, ardia todas as noites, com danças de resistência e guerras tribais. Mas agora é a Nova Hungria que se excita, em torno das espantosas declarações do senhor Gyurcsanny.

O chefe socialista, que governa com os liberais e defronta uma oposição de ‘centro-direita’ (aliada, na rua, a militantes nacionalistas radicais), viu gravada (por quem?) uma franca conversa num conciliábulo partidário, onde reconhece que o poder passou dois anos a mentir ao povo, sem fazer nada de bom.

O discurso soa mais a (auto)crítica do que a confissão. Um jornal de Budapeste fala mesmo em “catarse e tragédia”. Mas o certo é que, manipulações do descontentamento à parte, esta parecia uma crise à espera, inevitável.

A verdade é que o velho reino magiar é hoje uma República empobrecida, socialmente instável, em que as massas perguntam se valeu a pena.

Não querendo voltar ao comunismo ‘tecnocrático’ de 1988, também ninguém quer suicidar-se em nome dos bonitos olhos de Bruxelas.

Golpe no Paraíso

O décimo oitavo golpe da Tailândia (a ‘Terra dos Homens Livres’) foi suave, com os soldados aconselhados pelo comando a usar flores nas espingardas e a sorrir aos transeuntes. O rei Bhumibol, da dinastia Chakri, santificou o pronunciamento, liderado por um general muçulmano. O seu poder, anunciado enquanto provisório e comissarial (como era o de Caio Júlio César), levará a uma nova constituição e eleições. Diz-se que o destituído governante militar (que sobrevivera a dois atentados), contestado por fraude eleitoral e nepotismo, foi incapaz de resolver – ponderadamente – a insurreição islâmica nas províncias do Sul, e compreender a vital posição estratégica do ex-trono do Sião, no cruzamento das rotas da droga e das guerras de religião. Isso paga-se caro.

Em 410 a.C., Aristófanes escrevia ‘Lisístrata’ (que chegou a inspirar Chico Buarque). As mulheres de Esparta, Boécia e Corinto unem-se para acabar com a guerra do Peloponeso. Obrigam os maridos a depor as armas, negando-lhes relações íntimas. O mesmo fizeram, com sucesso, as esposas dos gangsters de Pereira e Dosquebrados, na Colômbia, onde 488 pessoas morreram em 2005, nas vinganças entre bandos rivais.

As relações entre Paquistão e EUA terão chegado ao seu pior momento desde 2001. Quem ganha são os Taliban do Waziristão.

Em Beirute, o empolgado xeque Nasrallah declara a vitória, pede a paz, e anuncia que ainda tem 20 mil mísseis para lançar.

Nuno Rogeiro

Retirado do Correio da Manhã, 24 de Setembro de 2006.

Dois gigantes, Frank Sinatra e Elvis Presley

Ele está de volta

Encerrado que foi o É a Hora, regressa agora o nosso blogador no O Estado do Tempo. Ide pois visitar.

sábado, setembro 23, 2006

Dúvida existencial


Como fã que fui, e sou, de Cat Stevens será que não me envergonharei de comprar o último disco do mesmo, já com o seu novo nome de Yusuf Islam... estarei a colaborar com as "maléficas" forças anti-Ocidente?
Com a chegada do Outono, o doce Outono, a minha estação favorita do ano, em que já sabe bem estar sentado no sofá a ler um bom livro - daqueles pesados, com muitas páginas - enquanto me delício com uma taça de Jack Daniels (o Old Number 7) e ouço Father And Son de Cat Stevens... se possível com a lareira acesa...
A vida parece bela de se viver, a chuva bate na janela, a luz é fraca e está quente na sala... será mesmo relevante que Cat Stevens agora se chame Yusuf Islam?
Para complicar ainda mais, estou a ler a biografia de Lev Nussimbaum, também conhecido por Kurban Said e também conhecido por Essad Bey, cuja crítica li atenciosamente pela pena de Miguel Castelo-Branco e, logo aí, decidi que era obra a possuir.
O Orientalista, de Tom Reiss, uma delícia de se ler...
Este Lev Nussimbaum era um judeu que se transformou num príncipe muçulmano e num autor de renome da Alemanha nazi... era um judeu muçulmano fascista...
Cat Stevens/Yusuf Islam misturado com Lev Nassimbaum/Essad Bey/Kurban Said e Jack Daniels... começo bem este Outono...

Sintomático


Por mera curiosidade, que raramente - quase nunca - compro esse jornal, tentei comprar O Expresso mas já estava esgotado nos locais que costumo frequentar... em compensação estavam duas pilhas de Sol à espera de quem lhes pegasse...

sexta-feira, setembro 22, 2006

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Favor ver post anterior antes de ver este.

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Este é dedicado ao Pedro Guedes.

Um desejo utópico



A Direita que não havia


Continua animado o debate sobre a direita e a esquerda. Esse debate é a melhor prova que esta clivagem identitária pode não esgotar o catálogo das linhas de conflito político nas sociedades contemporâneas, mas que continua a ser uma das principais.

Nos jornais e nos blogues continuam a publicar-se opiniões sobre o assunto. Um exemplo. Eduardo Pitta escrevia ontem no Da Literatura: “a esquerda e a direita democráticas são adversárias, não são inimigas. É importante que se reconheçam e se digladiem de forma clara, para que nesse confronto não se percam apoios para os sectores radicais, para as margens, onde – aí sim – se albergam os inimigos da democracia.”.

Não podíamos estar mais de acordo. Portugal tem tido uma direita a que costumo chamar a direita das cadeiras. É direita apenas porque as suas cadeiras estão postas à direita das do PS no hemiciclo parlamentar. É a direita geométrica. A direita que é tão estatista como a esquerda. Que é tão centrista como Sócrates. Por isso essa direita se sente invadida pelo actual PS e vota a maioria das iniciativas políticas do Governo. É a direita que almeja a conquista do El Dorado eleitoral a que por cá se chama de centrão.

Mas do que Portugal precisa é de uma direita política. De uma direita conservadora e liberal, que não tenha a mesquinha ambição dos consensos, mas que tenha a coragem das rupturas necessárias. Que não queira vender a alma ao diabo dos pactos, mas que se atreva a propor, defender, sufragar e executar, se para tanto tiver os votos necessários. Que não seja estatista. Sobretudo que não seja anti-estatista vivendo e comendo do Estado.

Como afirma o Prof. José Manuel Moreira, “O mal que o Estado faz não é só ao sistema económico é também ao sistema político e – principalmente – ao sistema ético-cultural ao ter-nos feito com que as pessoas tenham perdido o sentido da íntima relação entre deveres e direitos. O que levou à substituição do direito a “procurar a própria felicidade” pelo direito a “desfrutar dessa felicidade”, a desfrutá-la, claro, à custa do orçamento público. O que nos arrastou para os problemas da despesa pública e pode acarretar, a prazo, a deslegitimação do próprio Estado.”

É esta direita que não havia que a NovaDemocracia se propõe representar. As diferenças relativamente ao CDS e ao PSD são óbvias.

Jorge Ferreira

Retirado do Tomar Partido.

Ainda o 11 de Setembro


No 11 de Setembro de 2000 eu estava em Londres - tinha chegado na véspera, a 10, de Lisboa. De manhã encontrei-me em Knightsbridge com o Gen. João de Matos. E depois segui para Heathrow par o voo BA para Washington DC, onde tinha, no dia 12 um encontro com Walter Kansteiner, Secretário de Estado Adjunto para os Assuntos Africanos.

Fiz o check-in e fui agradavelmente surpreendido por um upgrading espontâneo de Business para First Class. Estava a dar uma volta pelas lojas para matar o tempo e um empregado bem educado, diz-me ao ver o meu ticket: "Apparently, there is some trouble in New York, Sir!"

"What kind of trouble?"

"Terrorist attack, or alike. But not a big deal, I guess".

He guessed wrong!

Entrei no avião, olhei a minha aerodinâmica cadeira-cama da First; eram 2.40 pm, mais ou menos. Toca o móvel que ainda não desligara, e a minha secretária de Lisboa, fala-me, em pânico, diz-me para não embarcar pois os Estados Unidos estão sob um grande ataque!

Logo lhe digo que, se fôr tão grave, nem eu nem ninguém embarcará para lá. E desliguei.

Depois chequei com a família, a Zézinha estava no Panamá, numa reunião da Secib, os filhos em Lisboa. Fui tendo pormenores pois todos estavam já colados à televisão.

Toda a gente, por esta altura, no avião, falava pelos celulares, e recebia chamadas. Após alguns minutos, mandaram-nos sair e recolher a bagagem. Com sentido prático liguei para a agência de viagens, marcando um bilhete para Lisboa, no primeiro avião. E assim, recolhi a bagagem, fiz o check-in para Lisboa, num princípio de caos, e regressei, filosofando no voo, com o Fernando Ulrich, que estava a voltar de Londres, sobre o futuro do mundo...

Cheguei a casa e vi na TV aquelas imagens, depois vistas centenas de vezes, de uma espécie de miragem tirada da capa de um romance de science-fiction da idade dourada: céu azul, como os céus imaginados do Asimov na Fundação ou do Bradbury; Nova Iorque como um quadro do Edward Hopper, uma manhã de Verão tardio, e um avião, como se fosse um modelo de brincar, e embater em Babel.

Acordei a 12, a trautear, inconscientemente, o God Bless America e pensei que tínhamos entrado noutro capítulo; como outros pensaram em Outubro de 17, ou Agosto de 45 ou no Verão da chegada à Lua; e como em Portugal, mais modestamente, uns viram o dia em que Salazar saiu do governo, o 25 de Abril e o 27 de Julho de 74, quando o Spínola oficializou o fim do Império Português.

Pensando a cinco anos:

A primeira reacção - a campanha do Afeganistão - foi certa, no tempo, lugar, objectivo, na estratégia e na táctica; em atacar o inimigo, no seu centro, no não-Estado Talibã. Fazê-lo por todos os meios, com bombardeiros e heli-canhões, "botas no chão" de forças especiais, agentes da CIA com malas de dólares para os war lords. Fazê-lo bem e depressa, com o apoio de todo o mundo, de Londres e Paris ao Cairo e a Moscovo.

Depois a efabulação ideológica e os interesses de Estados que não o Estado norte-americana entram em jogo e foi a marcha para a invasão do Iraque - a guerra errada no tempo errado. Esclareça-se que o meu qualificativo de "guerra errada" não tem nada a ver com a "ilegitimidade" internacionalista - aprovação da ONU, dos espíritos bem-pensantes ou p.c. Tem sim a ver com o seguinte:

Já antes, mas mais depois do 11-S, o grande perigo para o mundo civilizado vem do macroterrorismo fanático, de base não estatal, isto é fragmentado, errático, ideológico. São preferíveis Estados, mesmo Rogue States, a não Estados - ou áreas caóticas como a Somália, ou o Iraque "libertado". Sadam Hussein era um tipo pouco recomendável, os filhos uns assassinos paranóicos, mas se fôssemos a aplicar essa regra para atacar governos, desconfio que talvez metade dos regimes no poder fora da OCDE teriam que ser invadidos em nome dos direitos do homem ou da anti-corrupção.

Além disso, a máquina de guerra americana, magnífica para a campanha do Iraque, não está preparada para ser uma força de ocupação e polícia. E quando, com o zelo depurador, o Sr. Bremer, licenciou as Forças Armadas e de Segurança iraquianas, abriu um buraco cósmico, que além de dezenas de milhar de iraquianos assassinados à faca, tiro e bomba entre si, já quase matou mais de 2000 soldados americanos e aliados.

E as alternativas não são famosas: ou o Iraque se divide em três - os curdos no Norte e uma partilha territorial complicadíssima entre os shiitas e sunitas no resto do país. Ou para ficar unido irá progressivamente ter que aplicar o estado de excepção, através dos militares e forças policiais, acabando num regime autoritário, pré-ditatorial. De que os ocidentais serão aliados e terão que apoiar, por muito tempo, pelo menos em termos de forças aéreas e forças convencionais pesadas. E no fim - Sadam Hussein.

Sadam Hussein, aliás, estava tranquilo e não esperava pela guerra pois comungava daquela crença básica de que os interesses dos Estados Unidos, que o tinham ajudado como paladino anti-fundamentalista, passavam por mantê-lo no poder. E que ele não tinha ligações nem com a Al-Qaeda, nem com armas de destruição maciça. Ele sabia e pensava, que os americanos sabiam, e que só por estupidez o atacariam.

Hitler tinha feito a mesma análise com os ingleses! É sempre perigoso achar que conhecemos "objectivamente" os interesses de outros países melhor que eles.

Jaime Nogueira Pinto

Retirado do Futuro Presente.

O Papa e o profeta


Acusá-lo [Bento XVI] de começar uma cruzada é ler ao contrário o que foi dito.

Em discurso erudito (que poucos leram), na Aula Magna da sua antiga Universidade de Regensburg, Bento XVI tocou um tema querido: pode a religião ser contrária à razão?

Em várias passagens, cita controvérsias mortais dentro do pensamento ocidental, do Cristianismo, e da própria Igreja Católica. Explica, por exemplo, que a tentativa de retirar à última a herança helenística esteve na origem da consideração da fé como um mecanismo separado da realidade. Lembra, porém, que quando se diz, na (primeira) versão grega dos Evangelhos, “Ao Princípio era o Verbo” (Logos), isso significa “no começo era a razão e a palavra”.

O logos, a palavra da razão, que consubstancia a verdade, apela ao espírito. Já a guerra se joga para o corpo. Nesse sentido, a guerra é ‘irracional’, ao mesmo tempo que imoral. Citando Manuel II Paleólogo, em 1391, usa uma passagem traduzida por Theodore Khoury, explicando que, para o espírito helenístico do imperador bizantino, cercado em Constantinopla, parece “errado, injusto e desumano” que o Islão defenda a guerra, contra a razão.

Devastadora, a citação usa-se como mero exemplo, numa discussão teológica que, em vários pontos, é também demolidora para as teorias cristãs da ‘guerra justa’.

Joseph Ratzinger não é nem uma estrela de cinema, nem um presidente, nem um director de relações públicas. O seu tempo é próprio, e isso pode trazer problemas aos que esperam espectáculo. Mas acusá-lo de começar uma cruzada é ler ao contrário o que foi dito.

Erros e (o)missões

Ahmed Rashid, autor de uma boa história dos Taliban, explica que, durante três anos, as zonas tribais do Waziristão foram deixadas ao deus-dará, depois da fuga de bin Laden da sua fortaleza em Tora Bora, no fim de 2001. Foi precisamente aí, sem lei nem ordem, e sobretudo sem exército paquistanês, que a coligação entre a al-Qaeda e os ‘estudantes de teologia’ do mullah Mohamad Omar, se reconstruiu.

Fez novos adeptos, recriou os circuitos de recrutamento, fornecimento de armas e financiamento, reabriu as zonas de passagem para o Sul e Oriente do Afeganistão e, em suma, preparou a reconquista do poder. Ao mesmo tempo que isto se passava, a atenção estratégica da NATO e dos EUA voltava-se para o Iraque. Como disseram os críticos, na altura, esta combinação explosiva de abandono de prioridades, trabalho deixado a meio, adiamento de soluções e desguarnecimento territorial iria ter consequências.

As tropas da Aliança, hoje envolvidas numa guerra sem quartel (que não podem perder, mas que dificilmente conseguem ganhar), vivem essas consequências.

Dia D

No Ocidente do Sudão, há três anos, dois movimentos armados (o MJI e o ELS) começaram uma ‘guerra de libertação’. Diziam representar os interesses das etnias e tribos oprimidas da região, contra o governo de Cartum e as suas milícias. Entretanto, a guerrilha dividiu-se, ocorreram centenas de milhares de mortos e o Mundo despertou para mais uma atrocidade.

O ‘Dia do Darfur’ é hoje. Servirá para alguma coisa?

Nuno Rogeiro

Retirado do Correio da Manhã, 17 de Setembro de 2006.

Como perdemos o 11 de Setembro


Há cinco anos a capital da actual potência dominante foi severamente atacada. A barbaridade, a violência gratuita, a terrível injustiça, o simples horror daquele dia 11 de Setembro de 2001 ultrapassaram novos limites na infame história do terrorismo. Como se lida com o susto, a perplexidade, o medo, a raiva? Perante a dimensão do mal é difícil saber reagir, mas é nessas ocasiões que se torna essencial manter a serenidade e a virtude para não entrar na espiral de crueldade que nos é imposta. Infelizmente entrámos. Foi a reacção, e não o atentado, que o transformou numa ruptura decisiva.

O mundo mudou mas não com o golpe. Perdemos o 11 de Setembro a 7 de Outubro. Os aliados, enquanto bombardeavam as populações do Afeganistão e Iraque, ampliavam os efeitos muito para lá do que poderiam sonhar os assassinos. O terror atingiu o seu máximo efeito. Foi uma grande vitória dos terroristas!

Assumindo que os relatos do atentado são rigorosos, verificam-se logo largas discrepâncias entre os factos e as suas interpretações. Primeiro, não existiram quaisquer "armas de destruição maciça" envolvidas. Há décadas que o Ocidente teme um ataque desses, mas os criminosos usaram só facas. Além disso, não houve quaisquer países implicados. Aliás o assalto nem sequer foi reinvindicado e os seus propósitos directos ficaram desconhecidos. Finalmente, o elemento que o tornou devastador foi algo que surpreendeu até os terroristas: a incrível fragilidade estrutural do World Trade Centre. Se o ataque fosse ao Empire State Building as vítimas seriam mínimas.

Assim, os protagonistas das acções destes últimos cinco anos estiveram ausentes do atentado que alegadamente lhes deu origem. Nem o Afeganistão, nem o Iraque, nem as armas de destruição maciça representaram qualquer papel naquela terrível manhã. Aliás, as famigeradas armas mantiveram-se teimosamente ausentes em todo o processo e só agora ameaçam aparecer, mas no Irão e na Coreia do Norte, que nada têm a ver com o assunto. Por outro lado o arrojo arrogante do arquitecto das Torres Gémeas nem sequer foi indiciado.

As finalidades do golpe eram duas: criar terror no Ocidente e desconfiança entre o mundo e o Islão. O acontecimento em si não chegava para tal, mas a resposta dos dirigentes e as descrições dos jornalistas garantiram esses efeitos. Ao decretarem uma "guerra contra o terrorismo internacional" os EUA transformaram um assunto de polícia e espionagem numa magna questão militar e diplomática. Um só atentado já gerou duas guerras, milhares de vítimas, dois países à beira do colapso e a criação de um quadro internacional dos mais tensos de sempre. Era precisamente isso que os terroristas queriam.

Há décadas que a famigerada Al-Qaeda ansiava pela visibilidade. As reacções ao desastre elevaram-na à condição de grande actor da cena internacional. A sua realidade é nebulosa, mas foi-lhe atribuída a pior arma possível contra o Ocidente burguês e consumista. Uma velha máxima da História diz que nada faz mais medo aos que vivem no conforto que o alegado desprendimento de quem se entrega a uma causa. Há 158 anos foi declarado: "Os proletários nada têm a perder a não ser suas algemas" (Marx e Engels, Manifesto do Partido Comunista, 4). Era mentira, mas o grito fez tremer o sistema capitalista e quase o venceu. Hoje os jornais falam de multidões de jovens islâmicos capazes de desprezar a vida.

Na verdade, os piores inimigos da Al-Qaeda sempre foram os governos árabes e os militantes da "Irmandade Muçulmana". As divisões entre as várias tendências só se esbatem perante as ameaças. Após o atentado, a opinião pública ocidental tendeu a desconfiar indiscriminadamente de todas as instituições maometanas. Após os ataques ocidentais na região, a opinião pública árabe elevou os terroristas a heróis e tornou difícil a sua perseguição pelas polícias locais. Deste modo a desconfiança mútua cresceu acentudamente. A espiral da crueldade subiu mais um furo.

O acontecimento de há cinco anos, único em décadas de terrorismo, nasceu de enorme audácia, cuidadosa preparação e muito azar. Mas só a desastrada, mesmo se previsível, resposta à catástrofe lhe garantiu os efeitos pretendidos pelos autores. Deixámos o veneno penetrar no sangue. O dia 11 de Setembro de 2001 constitui um marco histórico decisivo. Um dos principais factores disso é a nossa insistência em ver o dia 11 de Setembro de 2001 como um marco histórico decisivo.

João César das Neves

Retirado do Diário de Notícias, 11 de Setembro de 2006.

Um blogue a não perder

Pat Buchanan já tem um blogue, vale a pena visitar (e não, não me esqueci do meu compromisso em traduzir, semanalmente, um artigo do mesmo).
Curiosamente, este blogue foi desenvolvido pela Linda Muller, a simpática colaboradora de campanha de Pat Buchanan, da Internet Brigade, e também a pessoa que tratou da minha assinatura da American Conservative, ainda antes da revista sair...

'Nine-eleven': um ponto sem retorno


Contava-se a história daquele soldado inglês que esteve na Batalha de Waterloo e, interrogado sobre o que havia visto, terá respondido que no meio de tão grande confusão só se recordava de ver passar um homem pequeno em cima de um cavalo branco.

Há cinco anos eu estava em trabalho na cidade do Panamá com bilhete de avião para, no dia 12, voar para Washington. Durante o dia 11, fechada numa sala de reuniões, com as comunicações dificultadas, as notícias contraditórias, o estado de alerta imediatamente decretado no canal do Panamá, a ansiedade corajosamente contida de vários representantes das Nações Unidas, agências e organismos multilaterais com sede em Nova Iorque, que não tinham forma de contactar as famílias, era eu o soldado de Waterloo: não conseguia ver mais que a explosão de duas torres, provocada por dois aviões. Só à noite percebi que o segundo milénio se iniciava de facto e que aquela data marcava uma fronteira histórica irreversível.

Hoje, após cinco anos de convivência com o fenómeno que então emergiu de modo tão brutal, faz sentido interrogarmo-nos sobre o que é que mudou e o que é que continua? Ou seja, há uma ruptura essencial ou tão-só um acidente de percurso que será reencontrado mais adiante?

Como noutras situações, a História depende do seu curso próximo-futuro, isto é, se se repetiriam e multiplicariam os episódios do tipo "nine-eleven", mas em cinco anos não se repetiram em tal escala ou escalada. Podemos então pensar que, também do lado do macroterrorismo, se introduziram factores de medida e cálculo "político"e que podemos viver com esta espécie de "islamo-leninismo" e enfrentá-lo como uma nova guerra.

Uma guerra do tipo guerra subversiva à escala global; uma guerra contra poderes que - como as guerrilhas tradicionais nas suas áreas de operações - são difíceis de enfrentar exactamente porque são erráticas, não têm base territorial, nem hierarquia visível. E funcionam como uma espécie de franchise de geometria variável, que hoje pode atacar um metro de Londres, amanhã um resort turístico na Turquia, para a semana um avião comercial asiático.

Mas essa guerra é uma guerra contra o terrorismo que nos ataca, para o controlar, isolar e, finalmente, neutralizar. Não é uma guerra contra o Islão, nem uma cruzada contra tudo e contra todos para impôr o nosso modelo civilizacional.

O Iraque bastou para avaliar o inferno das boas intenções e da actuação dos grandes poderes quando saem da ponderação dos seus legítimos interesses nacionais e da contenção da ameaça, e entram no fervor missionário das ideologias globais.

Aliás, neste momento, os Estados Unidos, que sempre - desde Pearl Harbour ao Vietname - souberam aprender as lições dos fracassos, e por isso saíram vencedores da II Guerra Mundial e da III - a Guerra Fria - estão a sair progressivamente da receita neoconservadora e a priorizar a estabilidade política das áreas aliadas, em vez da imposição pura e dura de modelos ideológicos.

Isto é o que hoje podemos pensar, neste curso próximo-futuro da História que vivemos. Mas, nesse dia, uma fronteira irreversível rasgou o curso da História como a víamos e vivíamos. Esse momento simultâneo de ruptura e iniciático ou inaugural de novos tempos, ficou marcado por uma imensa perplexidade e algumas constatações. A perplexidade da demonstração brutal da extrema vulnerabilidade do santuário por excelência do poder, do progresso, da sofisticação tecnológica, da abundância, da democracia; da consequente e irremediável globalização dos riscos e a queda do mito de espaços inexpugnáveis. Por fim, a constatação das consequências de uma fragmentação dos conflitos, com a emergência de uma nova matriz de cariz religioso e ou separatista sem base estadual - resultado do fim abrupto do bloco soviético, do termo da Guerra Fria, das suas regras e códigos de conduta conhecidos num mundo previsível - tornando inúteis muitos dos pressupostos da ordem internacional até então vigente, e ineficazes os mecanismos de controlo e dissuasão das últimas décadas.

Mais aquém e além do como conviver e combater esta nova ameaça do macroterrorismo, é urgente pensar diferente num mundo diferente, com uma nova ordem internacional e uma nova arquitectura dos poderes. Porque, como bem salienta Alexandre Adler, o 11 de Setembro visto agora numa dimensão estratosférica marcou também, nessa fronteira histórica irreversível, a ascensão da Ásia, o reenquadramento hemisférico da América e, sem dúvida, a relativa insignificância da Europa.

Maria José Nogueira Pinto

Retirado do Diário de Notícias, 15 de Setembro de 2006.

Regresso ao realismo


Desde há uns anos que a resposta do mundo ocidental ao terrorismo se baseia na seguinte premissa: o terrorismo foi tão longe com o 11 de Setembro, mostrou uma tão temível sofisticação nos seus recursos e ideologia, que o Ocidente, no fundo os Estados Unidos, não podia insistir com a velha passividade. A segurança da América já não dependia da protecção das suas fronteiras mas exigia que um certo voluntarismo fosse posto em prática. Os tempos tinham mudado, mesmo que isso representasse uma mudança da política não agressiva da era Clinton e das ambições de isolacionismo com que Bush iniciou o seu mandato. A legítima defesa, como na invasão do Afeganistão, não chegava. As imperfeições das Nações Unidas eram um sinal de lirismo. Se fosse preciso os Estados Unidos interviriam sozinhos contra o terrorismo de massas, empenhando-se na transformação do Médio Oriente.

A guerra do Iraque foi o mais óbvio ensaio dessa política e, entretanto, vale a pena relembrar o que se tem aprendido. Primeiro, mesmo que a longo prazo o Iraque se torne uma democracia estável e sem divisões, a ideia que daí nascerá um efeito de contágio para o Médio Oriente é, para já, impossível de antecipar. No mundo árabe a democracia não tem gerado moderação mas radicalismo: os xiitas controlam o Iraque e o Hamas manda na Palestina. Depois, nenhuma política para o Médio Oriente pode resultar se pretender a aculturação e ocidentalização das populações locais. Não se pode fugir a que sociedades com tradições incompatíveis resistam à intromissão. Lutar contra o terrorismo no interior de um Estado também parece impossível. Nenhum Estado ocidental tem condições para aguentar guerras longas e dispendiosas. Há um risco sério de inconsequência e incompletude.

É preciso cautela na ideia de mudar de uma vez o Médio Oriente. Isto implica o regresso a uma diplomacia activa e realista, intransigente com o fundamentalismo, responsabilizador do islão moderado mas apenas apostado em obter ganhos relativos. A contenção deve agora prevalecer sobre a utopia.

Pedro Lomba

Retirado do Diário de Notícias, 16 de Setembro de 2006.

A importância da palavra

A questão talvez já nem seja uma informação excessiva, reduzida a um grosseiro ruído de fundo, onde a verdade objectiva é acabrunhada pelas verdades subjectivas e particulares, leves como a espuma, inconsistentes como o vento e, muitas vezes, inconfessáveis como os grandes pecados. A questão talvez seja sobretudo a deformação deficiente dos utilizadores e manipuladores da palavra.

Uma sociedade que só reage a slogans é uma sociedade rendida à manipulação, que desprezou a cultura, o conhecimento e as referências históricas, como os únicos elementos de ligação que permitem formar critérios e opiniões a partir da informação.

São muitos os que se interrogam se a televisão digital, os computadores, a Internet, o correio electrónico e as páginas Web significam um efectivo contributo para tornar os cidadãos deste final de século mais cultos, mais informados, mais poderosos, mais felizes e com mais oportunidades, ou se uma contabilidade tardia e terrível os revelará como autistas, sem capacidade crítica, manipuláveis e submetidos à ditadura do pensamento único.

O problema é a morte lenta da palavra. O problema não é áudio, vídeo ou digital.

É dentro das palavras que permanecem as coisas. No princípio era o verbo. A eternidade pode bem ser "um inaudível estrondo de palavras". Como a continuidade humana se manifesta no interminável rumor das palavras.

O que nos levou então a endeusar o provérbio oriental de que "uma imagem vale mil palavras"?

Nós, que ao longo dos tempos sentimos, crescemos, aprendemos, ensinamos, partilhamos, descobrimos e fomos nas palavras e com as palavras? Todo o animal vê, só nós falamos. Esse foi o dom, o Big Bang!

O mais extraordinário é que a palavra vive hoje subordinada à imagem. Tornou-se breve, seca, descarnada, subliminar. Já não se fala para se ser entendido, fala-se para se ver visto.

Criámos uma cultura bárbara, incipiente, onde só ressalta a espuma das coisas. Uma regressão que a grande escritora de ficção científica Ursula Le Guinn imaginou há muito no "nome das coisas", um estádio humano onde para se conhecer a verdade era preciso dizer a palavra certa e exacta.

E a verdade tornou-se um privilégio de muito poucos.

O trabalho jornalístico passou à condição de "diz que disse" e o cidadão sabe mais sobre o efémero e o irrelevante do que sobre o que, sendo essencial, o defende e ameaça.

Bed Bradlee, professor de Jornalismo que foi director do Washington Post, dizia: "Por detrás de uma informação deficiente existe sempre uma formação deficiente."

A morte da palavra transporta consigo a morte de muitas coisas essenciais: o pensamento, a inteligência, a verdade. O fim das ideologias - também estupidamente erigido como um desiderato - conduzirá a um pensamento único e bacoco. A impunidade intelectual será não só tolerada como justificável.

Nas democracias, onde a palavra foi dada a uns por se supor que poderiam falar em nome de todos e, paralelamente, se criou um quarto poder em nome de direitos, liberdades e garantias fundamentais, assiste-se a um distanciamento cada vez maior entre os que julgam saber e os que não querem ouvir. Os primeiros já só falam entre si. Os segundo afastam-se cada vez mais. A abstenção, em todas as suas formas, aumentará. O poder de decidir desaparecerá. O direito à informação será, cada vez mais, uma figura de retórica. Sobre uns cairá o descrédito. Sobre outros a anestesia manipuladora da confusão.

Quem ganhará com isto?

Salvar a palavra pode muito bem ser, nos tempos que correm, a melhor forma de preservar a liberdade.

Maria José Nogueira Pinto

Retirado do Diário de Notícias, 22 de Setembro de 2006.