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O atual "espetáculo" proporcionado pelos nossos "políticos" é de estarrecer. A troca desenfreada de partidos, o esquecimento das bandeiras defendidas no passado, alianças espúrias efetivadas, o clientelismo desenfreado, o assistencialismo enganoso, o nepotismo desvairado mostram o baixo nível de cultura política existente. Ao presenciarmos a corrida pela função de relator da "reforma tributária" no Senado entre os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, recordamo-nos de que sempre estiveram no poder. O primeiro, de tradicional família alagoana, serviu a todos os presidentes da República, desde Fernando Collor, em postos de destaque. Chegou a ser líder do governo, ministro da Justiça de FHC e, agora, cotado de novo para ser ministro da administração Lula. O segundo, que também quer ser ministro, tem suas origens políticas no período militar, destacando-se sempre pela defesa intransigente de qualquer governo, seja FHC ou Lula. São modelos de incoerência ideológica. Apenas, não por coincidência, são hoplófobos assumidos.
A razão verdadeira de procedimentos como o exposto está na busca de verbas, cargos e nomeações para garantir a reeleição ou posições mais prósperas. Verificamos a diminuição das bancadas do PSDB, do PMDB e do PFL e o "inchaço" das bancadas aliadas do governo, em especial do PL e do PTB, enquanto o PT procura preservar-se. Ora, os distintos chefes políticos tradicionais não estão enxergando um palmo a frente. O PT, ao ganhar a eleição para a Presidência da República, obteve o poder de nomear dezenas de milhares de integrantes de seus quadros partidários para os principais cargos de comando no país. Para os partidos aliados está oferecendo "migalhas". O PMDB, então, está engajado no apoio a todas as "reformas", altamente desgastantes, sem ter um ministério ainda, por conta de promessas.
Nas eleições municipais de 2004 a meta do PT, hoje com cerca de 180 prefeituras, é de vencer em mais de 1.000. Imaginem, se isto de fato ocorrer, as conseqüências. Serão mais dezenas de milhares de cargos para os seus quadros políticos. Aliando-se a isto o poder da mídia, quase que inteiramente dependente das concessões públicas e das verbas publicitárias provenientes em especial da administração federal, encontramos um cenário preocupante. Apesar das diversas correntes que abriga, o PT adota o centralismo democrático modelo cubano e sabe impor a sua vontade aos eventuais contestadores. Se este panorama for concretizado, com a "eleição eletrônica" e mais um ou dois ministros do Supremo Tribunal Federal nomeados, estarão criadas as condições para o surgimento de um rolo compressor nas eleições de 2006, garantindo não só a reeleição de Lula, como a conquista da maior parte das administrações estaduais. Serão mais dezenas de milhares de quadros partidários nomeados para cargos de confiança, fechando a teia de aranha. E é bom não esquecer o dízimo. A arrecadação do PT com a cobrança da contribuição partidária compulsória o tornará o partido mais forte da América Latina. Em paralelo com o crescente esvaziamento dos demais, em virtude principalmente do fisiologismo, em mais três anos, não necessitará mais do apoio de outro partido, pois será forte o suficiente para governar sozinho.
Estarão criadas as condições para a implantação de um partido único, de fato, sectário, radical, perseguidor dos que não pensam como eles, conforme já está ocorrendo nas principais estatais brasileiras, permitindo-se a sobrevivência de alguns, apenas para afirmação da falácia de que vivemos em uma democracia, a exemplo do passado, com a Arena e o MDB. Será que os ilustres dirigentes partidários de outros partidos não estão percebendo o perigo que estão correndo? A única saída é a união de todos, em torno de um projeto democrático, para evitar a ditadura de fato, enquanto é tempo. Na realidade, como na estória do ovo com o bacon, na sociedade entre os porcos e as galinhas, estão entrando com o bacon, enquanto o PT fornece os ovos.
Marcos Coimbra
Na última Atlântico, em artigo centrado na realidade portuguesa, Rui Ramos referiu-se aos segmentos que gostam de invocar para si o título de “direita dura” como constituindo, na realidade, uma direita esquerdizada. Salientou também que são segmentos cuja actuação interessa à esquerda, precisamente por corresponder de forma quase perfeita à representação caricatural que esta gosta de fazer da direita. É, sem dúvida, uma tese interessante, mas valerá a pena salientar também que, na conjuntura actual da Europa, cabe à direita liberal mostrar ser capaz de enfrentar os problemas estruturais (e, não menos importante, os desafios civilizacionais) com que o continente se confronta. Se isso não acontecer, não será de espantar que a proclamada “direita dura” volte a emergir como uma força relevante na arena política europeia.
Um exemplo desta dinâmica provém do Reino Unido onde, nos últimos anos, o Partido Nacional Britânico (BNP) cresceu de forma significativa. A ponto de os resultados nas recentes eleições locais (em que o BNP conseguiu fazer eleger mais de 30 vereadores) e nas eleições europeias de 2004 (em que o BNP obteve uns expressivos 4,9% dos votos) terem feito soar os alarmes. A verdade é que, em termos de eleições legislativas, o número de votos no BNP tem vindo continuamente a crescer desde os valores mínimos de 1987 (curiosamente coincidentes com o governo de Margaret Thatcher). Mais: não fosse o sistema “First Past the Post” em vigor no Reino Unido (segundo o qual, recorde-se, em cada círculo uninominal é eleito logo à primeira volta o candidato mais votado, mesmo que não tenha uma maioria absoluta) e o BNP já teria provavelmente representação em Westminster.
Um segundo bom exemplo, embora de natureza bastante diferente, é o caso do United Kingdom Independence Party (UKIP). Fundado em 1993, na London School of Economics, por Alan Sked e um conjunto de personalidades (na sua maioria conservadores, desiludidos com a deriva europeísta dos Tories e a incapacidade do partido para se opor ao aumento do poder de Bruxelas) o UKIP advoga de forma inequívoca a saída do Reino Unido da União Europeia. Em 2004, nas eleições europeias, teve um resultado ainda mais expressivo do que os 4,9% do BNP: conquistou 12 lugares no Parlamento Europeu, obtendo cerca de 16% dos votos.
Acresce que, tanto o UKIP como o BNP, conseguiram esses relativos sucessos eleitorais apesar de serem partidos com graves problemas internos, inconsistências programáticas e limitações a vários níveis. No caso do BNP – a mais recente encarnação de uma linha de organizações de direita nacionalista que nunca foram particularmente bem sucedidas no Reino Unido – é notória a falta de quadros, para além do partido enfrentar sérios problemas financeiros e com a justiça britânica, além de um forte bloqueio mediático.
Já o bom desempenho, no início dos anos 1930, do New Party – liderado pelo carismático (e ex-trabalhista convertido ao fascismo) Oswald Mosley – acabou por ser de curta duração; o mesmo aconteceu com várias organizações e movimentos nacionalistas que nasceram ao longo das décadas seguintes, que também nunca atingiram uma expressão significativa de forma sustentada.
Por outro lado, o UKIP, para além de ser percepcionado como um partido de objectivo único, tem também uma longa série de conflitos internos na sua breve história. Aliás, logo em 1997, o fundador Alan Sked abandonou o partido, tendo desde então vindo a acusar o UKIP de albergar elementos extremistas. Sem esquecer que os euro-deputados do UKIP são frequentemente alvo de acusações de incompetência grosseira pela sua actuação em Estrasburgo.
Assim vendo, como explicar os progressos recentes de partidos como o BNP e o UKIP?
Uma boa parte da resposta deverá passar pelo facto de no Reino Unido (como em outros países da Europa Ocidental) a auto-proclamada “direita dura”, apesar de todas as suas limitações, estar a conseguir capitalizar de forma crescente a insatisfação de importantes segmentos da população com a ausência de reais alternativas às políticas da esquerda em várias áreas cruciais. Um vazio de alternativas que é notório em matérias como o alinhamento pleno das principais forças europeias de centro-direita com a transferência de cada vez mais poder para Bruxelas, a inexistência de uma agenda económica verdadeiramente liberalizante e reformista. O laxismo face à criminalidade e a desordem pública, a subserviência às desastrosas utopias do multiculturalismo e a incapacidade de combater seriamente os fluxos de imigração ilegal.
A evolução recente no Reino Unido ilustra bem que não basta apontar as limitações e incoerências da direita anti-liberal para lhe retirar o campo de manobra e estancar as suas perspectivas de crescimento. Cabe à direita liberal apresentar propostas mobilizadoras, consistentes e verdadeiramente alternativas à agenda da esquerda demonstrando assim que as acusações de “moleza” são desprovidas de fundamento.